O #OxeRecife, voltado para as coisas de nossa Capital, desloca um pouco seu foco no sentido Norte. Mais precisamente para Abreu e Lima, onde acontece no domingo (24), a décima segunda edição do Kipupa Malunguinho – Coco na Mata do Catucá, que deve reunir juremeiros de todo o País, naquilo que consideram seu encontro nacional. A festa tem início às nove e só deve terminar por volta das 20h. Todas as cerimônias ocorrem em Pitanga 2, que fica naquele município, localizado a apenas 18 quilômetros do Recife.
De acordo com o criador da festa, Alexandre L´Omi L´Odó, a manifestação é única do gênero no Brasil. “Nela, o participante pode conhecer parte da nossa história, que não está na escola nem nos livros”. E acrescenta: “O visitante pode brincar e vivenciar coletivamente a experiência de adentrar nas tradições religiosas menos acessíveis ao público”. Informa que todo o roteiro da festa é feito “para poder se experimentar a vida daqueles negros e negras que ali lutaram, viveram e morreram”. No Recife, poucas escolas valorizam a história de Malunguinho, esquecido nos livros didático. Eu conheço apenas duas: as Erens Cândido Duarte (Apipucos) e Mariano Teixeira (em Areias), na qual estive há alguns dias, durante apresentação de trabalhos (realizados por alunos), na Semana Estadual de Vivência e Prática da Cultura Afro-Pernambucana
Na Mariano Teixeira, Malunguinho e o Quilombo Catucá foram citados, discutidos e pesquisados à exaustão. Kipupa significa união, agregação de pessoas, associação de indivíduos em torno de um objetivo comum. Já Malunguinho vem do vocábulo Malungo, que quer dizer camarada, amigo, companheiro de bordo e de lutas. As duas palavras pertencem ao kibundo, falado em Angola. Alexandre lembra que malunguinho é hoje o título dado a lideranças quilombolas que, “no século 19, fizeram o Estado ferver, na Mata Norte”. Eles queriam liberdade para os negros e reforma agrária. Hoje, o Rei Malungo é, também, divindade patrona da Jurema Sagrada, considerado caboclo e trunqueiro, com função essencial na religião de matriz indígena.
Malunguinho era João Batista, último líder do Quilombo do Catucá que se estendia por toda a Mata Norte. A sua morte (18/9/1835) consta em registro oficial em documentos do Arquivo Público Estadual. No entanto, ele é normalmente ignorado, ao contrário de Zumbi dos Palmares, que é reverenciado e lembrado em livros, inclusive os didáticos. Para os juremeiros, Malunguinho tem importância mais ampla do que o outro líder negro, por ser reverenciado nas cerimônias religiosas. Por ter passado para outro plano, o sagrado. Ele teria assimilado hábitos indígenas, ao ser cuidado por nativos, após ser ferido pelo Exército. Alexandre coordena o Quilombo Cultural Malunguinho, destinado a resgatar as tradições juremeiras e a história do líder quilombola, que teria sido o último sobrevivente do Quilombo do Catucá.
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Serviço:
Kipupa Malunguinho – Coco na Mata do Catucá – Encontro Nacional de Juremeiros
Onde: Engenho Pitanga 2, em Abreu e Lima
Quando: dia 24, das nove às 20h
Acesso: gratuito.
Como ir: Abreu e Lima é ligada ao Recife pela BR-101 / Norte. Há chance, também, de ir de ônibus, cujos tíquetes (R$30) estão sendo vendidos até essa sexta-feira, no box de Eliane, no Mercado São José. No domingo, se houver vaga, as pessoas podem comprar na hora. “Mas é um risco a se correr”, diz Alexandre. O ônibus sai às sete da manhã, da Igreja do Carmo, no Centro do Recife. E retorna à noite.
Programação:
10h – Inicio do cortejo de cestinhas com oferendas para as matas sagradas.
14h – Abertura do Espaço Kipupa Malunguinho, com atividades que incluem contação de histórias
14h30 – Vivências para construção de painel lúdico educativo sobre o Rei Malunguinho, com brincadeiras.
15h30m – apresentação de crianças da jurema e encenação teatral, no principal palco do evento
16h – Distribuição de brindes da Festa de São Cosme e Damião
16h às 17h – Recreação
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação