Jornais impressos, crise e Tiggo

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Uma delícia, o livro  Dois Bairros Irmãos, sobre o patrimônio imaterial de Santo Antônio e São José, que ficam no Centro do Recife. Ainda não terminei, pois estou lendo devagar, para prolongar o prazer da leitura. Mas por conta de minha profissão, me chama a atenção o capítulo dedicado à Tradição de Imprensa. Nunca tinha me ligado, por exemplo, que foi nos bairros de Santo Antônio e São José, onde funcionaram “as sedes e parques gráficos da maioria dos periódicos informativos do Recife, desde as primeiras décadas do século 19”.

Lembra o coordenador e autor do texto final da publicação, Jacques Ribemboim que hoje esses serviços de imprensa vêm ocupando o Bairro de Santo Amaro. Onde, aliás, estão  atualmente as sedes do Sistema Jornal do Commercio, Tv Globo e Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). O Diário de Pernambuco também passou por Santo Amaro, transferindo-se para o Bairro do Recife, funcionando hoje na Rua Marquês de Olinda.  Tanto o JC quanto o DP funcionaram em Santo Antônio até o século 20, assim como o extinto Diário da Manhã  (foto acima). Mas o que me deixou ainda mais curiosa  foi a quantidade de jornais em circulação no Recife nos séculos passados. Pois só naqueles dois bairros, tinham “sede ou tipografia”, nada menos de 41 impressos durante o século 19. De acordo com Ribemboim, a informação foi colhida em História da Imprensa de Pernambuco, de Luís Nascimento (livro de oito volumes, sobre o assunto no Estado).

Sede do histórico Diário de Pernambuco, em Santo Antônio está em decadência, depois que  DP foi para Santo Amaro (LL)

A listagem faz referência a jornais que funcionaram em ruas como a das Flores, a Direita, da Praia, Imperador, Avenida Dantas Barreto, Rua Camboa do Carmo, Estreita do Rosário, entre outras vias de Santo Antônio ou São José. Os 41 jornais citados no livro foram todos fundados no século 19, sendo que alguns chegaram ao século 20. E aqui o  #OxeRecife faz lembrete sobre o Diário de Pernambuco, o único que chegou ao século 21. O velho DP  foi fundado  em 1825, mas sua sede histórica, na Praça da Independência, está caindo aos pedaços. Entre os impressos que chegaram ao século 20, estão:  A Província (1872-1933), Gazeta da Tarde (1988 – 1901), Comércio de Pernambuco (1892 – 1900), e o Estado de Pernambuco (1897 -1902).

Curiosos, também, eram os nomes  dos jornais de antigamente. Por exemplo:  O Rebate, Diário dos  Pobres (o primeiro registro, 1832) e o Quotidiana Fidedigna. Mas segue-se uma lista imensa de outros veículos: Diário Novo, Liberal Pernambucano, Constitucional,  Liberal,  A Província,  A Democracia,  A República, Jornal Pequeno, entre outros. Nesse século 21 de jornalismo impresso em crise –  com demissões frequentes, equipes reduzidas, empresas operando no vermelho (exceto em caso de receitas temporárias, como a decorrente da atual e maciça veiculação do anúncio de um carro, o Tiggo)  – é muito gratificante saber como a imprensa era vicejante, nos séculos passados, quando as comunicações se faziam  com dificuldade. E isso em um temo que a notícia corria com a velocidade do lombo de jumento.  Impressionante, no entanto, era a rapidez com que surgiam e desapareciam os jornais. E de forma tão frequente quanto uma eventual notícia que agora bombe na Internet.  Mas que, no dia seguinte, ninguém mais fala nem se lembra dela.

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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Divulgação/ Dois Bairros Irmãos

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