Joca e seus “diálogos (Im)prováveis”

Normalmente as pessoas confundem artigo e crônica. Pensam que são a mesma coisa. Simplesmente porque ambos são publicados em jornais, nas revistas. Mas há diferenças entre os dois. “O artigo é um gênero jornalístico (analítico, informativo, factual). A crônica é um gênero literário. Frequentemente é nostálgica, e traça paralelos entre o ontem e hoje, pouco se arrisca no amanhã”, afirma, com conhecimento de causa, Joca Souza Leão (na foto, com o pintor José Cláudio), que está lançando um livro de crônicas às 19h da terça-feira (12/11), no Bar Real, em Casa Forte .

Ele lembra, ainda, que a crônica pode ter “um pé na realidade e outro na ficção”. Pois é com um pé na realidade – e outro assumido na ficção – que Joca escreve  suas crônicas. Sempre “estilosas”, com pitadas de ironia e de observador atento seja das coisas do país, da cidade, da política, das pessoas, dos fatos pitorescos. E também da vida, das lembranças das conversas, da convivência com os amigos, da boemia. O cronista, claro, tem um outro olhar sobre as coisas. Dizia Rainer Maria Rilke (1875 -1926): “Se o cotidiano lhe parece  pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta, para extrair as suas riquezas”.  Rilke, um dos maiores poetas do século 20, ia mais longe: “Para o criador, nada é pobre, não há lugares mesquinhos e indiferentes”. Podemos, pois, dizer que Joca é um criador. E jamais será um mesquinho ou um indiferente. Se fosse, não seria um bom cronista.

Acompanho seus escritos e já li alguns dos seus livros.  Seus textos têm a marca não só do olho crítico, mas também da alma sensível de poeta. E isso, claro, sem ser piegas pois não tem nada mais chato do que crônica que transforma nostalgia em pieguice. Na terça-feira (dia 12/11), Joca Souza Leão lança seu quarto livro: A Primeira Vez. Crônicas e 101 Diálogos (Im)prováveis, reunindo as publicações ocorridas entre novembro de 2016 e setembro de 2019. Segundo ele, foram revisitadas e atualizadas, enquanto “o livro estava no prelo”. A edição é da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco).  Antes, Joca – que já foi publicitário – havia lançado Pano Rápido (2011), Crônicas (2013) e Crônicas e 50 Histórias Miúdas (2016). Não o li ainda o mais recente, mas em se tratando de Joca, tenham certeza: a leitura é divertida, leve e oportuna.

Para ser um bom cronista é preciso, também, ter a exata ciência do seu papel de observador das coisas cotidianas. E isso ele tem de sobra. Para Joca, a crônica expressa “opiniões, observações, percepções, palpites e, como a gente diz aqui, pitacos”. Todos muito “pessoais”, segundo o cronista. “A crônica é escrita na primeira pessoa. E o seu tom é de conversa com o leitor”,  explica. E acrescenta:  “Aí, como num papo de esquina, pode ser tudo: bem-humorada ou desaforada, refletida ou passional, isenta ou apaixonada, doce ou salgada; ficção ou realidade (ou as duas, juntas e misturadas). Coloquial. Sempre. O que não significa dizer que é escrita como se fala; mas, sim, que é escrita para que pareça fala”. Pronto, está dito. Para fazer qualquer coisa bem feita, é preciso ter consciência do que se está fazendo. No ofício de escrever, isso é mais do que necessário. É fundamental. E o segredo do sucesso. Seja o escriba poeta, escritor, jornalista, dramaturgo.  Ou cronista.

Serviço:
Noite de autógrafos
O quê: A Primeira Vez- Crônicas e Diálogos (Im)prováveis, de Joca Souza Leão (Cepe)
Preço: R$ 35 (214 páginas, capa dura)
Quando: Terça-feira (12/11)
Horário: 19h
Onde: Bar Real, Av Dezessete de Agosto, 1761, Casa Forte

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Texto: Leticia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação

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