Está feia, a crise. Passei esta semana pela Rua da Imperatriz, outrora um dos principais centros de compras do Recife. Achei meu percurso – feito a pé – até confortável. Isso porque, ao contrário de outras vias do Centro, a Imperatriz está com o passeio público livre de camelôs, embora careça de atrativos que a humanizem como bancos de praça, plantas, locais de convivência.
Venda nas ruas, oferta de mercadorias ou preços, sempre houve. E dessa vez não é diferente.“Óculos baratinhos com direito a oculista de graça”, ofereceu-me um rapaz. Outro me atraía para “empréstimos facilitados”, enquanto um terceiro tentava convencer os passantes para almoço em restaurante da localidade. “Preço bom e sem balança”.
Fiquei contente de ver a Imperatriz livre do excesso de camelôs. Também observei que o passeio público não estava ocupado por mercadorias das próprias lojas do lugar, como ocorre, por exemplo, nas imediações do Pátio de São Pedro e no Mercado de São José. Mas o que me chamou a atenção não foi só a rua livre de comércio ambulante, coisa rara em se tratando do Recife. O que chamou a atenção mesmo foi a quantidade de lojas fechadas. Da Praça Maciel Pinheiro à Rua da Aurora, na cabeceira da Ponte da Boa Vista contei nada menos de 15 imóveis com placa de aluga-se, nos 300 metros de extensão da via. E depois… ainda dizem que a economia está se recuperando.
Agora, uma coisa é certa. No geral, o centro está tão degradado e sem segurança, que muita gente prefere passar longe e fazer compras em locais fechados, como supermercados e shopping centers. O que é uma pena, pois o centro de cada cidade tem a sua graça, a sua identidade e normalmente funciona como atrativos para a maioria da população e também para visitantes. Lá onde estive, na Maciel Pinheiro, uma senhora, Isabel Ferreira, residente na Zona Norte, me confirmou que só tinha ido ao Centro por necessidade. Fora buscar um par de óculos que levou para conserto, nas imediações da Matriz da Boa Vista. “Está difícil passar aqui, pois a calçada do templo e a Praça Maciel Pinheiro estão tomadas de desocupados, muitos deles usuários de drogas, que ficam agressivos quando a gente não dá dinheiro”, queixa-se. “Dá medo”, conclui.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife