Hospital Getúlio Vargas: “A gente trabalha com medo de morrer”

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“A gente trabalha, mas com medo de morrer”. A frase, dramática, é de uma médica lotada há três décadas no Hospital Getúlio Vargas, cujo prédio, segundo ela, não oferece segurança para servidores e pacientes. Ela teme algum desmoronamento. Há rachaduras nas paredes, desnivelamentos entre blocos, áreas sustentadas com estacas e janelas com vidros retirados, devido às constantes trepidações que, aliás, não são de hoje. Mas de acordo com a profissional, os problemas se agravaram em 2018.

Ela informa que em 1992 foi construído um prédio anexo ao principal (este datado de 1954), para abrigar no andar térreo todos os ambulatórios clínicos, cozinha do hospital e setor de emergência. No primeiro andar, ficam laboratório, banco de sangue, refeitório e mais alguns ambulatórios. No segundo andar, há bloco cirúrgico com 14 salas de cirurgia – eletivas e de emergência – e mais três unidades de terapia intensiva. “No entanto, desde a inauguração, o prédio começou a apresentar rachaduras e desnivelamentos na passagem do antigo para o mais recente. E o descompasso aumentou tanto, que foi colocada uma rampa de madeira entre os dois blocos no segundo andar, onde o fluxo de macas e pacientes é mais intenso”, conta.

Rachaduras são visíveis até mesmo nas áreas destinadas a pacientes, como nesta sala de recuperação. Negligência.

Em 2004 houve um abalo tão grande no prédio que os servidores foram espalhados por outras unidades de saúde, “enquanto improvisaram um bloco cirúrgico nas enfermarias do segundo andar. Neste período o nível de infecção hospitalar bateu recorde”, recorda, acrescentando que “passaram dois anos ‘maquiando’ o prédio avariado”. Em 2006, os profissionais foram autorizados a retornar no HGV, porque “segundo a Secretaria de Saúde, o setor havia sido reforçado e não havia mais risco de desabamento”, recorda outra médica.  Elas lembram que desde então, “por várias vezes, saímos correndo pois as rachaduras aumentaram, e os vidros das janelas das duas salas de recuperação explodiram ( pelo terreno que estava cedendo)”. Conta uma médica, que após esse incidente, “a diretoria de então providenciou a retirada de todos os vidros das janelas que haviam no bloco cirúrgico”. o HGV fica na Zona Oeste do Recife.

Em 2014, após um grande abalo que nos fez correr durante o expediente , a imprensa foi chamada, mas não teve acesso ao interior do prédio, contam. Dizem que os profissionais que ali atuam passaram então uma semana sem entrar no Bloco, “mas apareceram vários “laudos” garantindo nossa segurança”.  No período teria sido providenciada uma “amarração” entre o prédio antigo  e o novo. Mas em 2018, pelo que se vê, a situação volta a preocupar. “Este ano, as rachaduras aumentaram a tal ponto, que há cerca de dois meses foram colocadas estruturas de ferro, como sustentação em quatro pisos”, afirma uma delas. Ela disse que houve abalos fortes no mês de junho. E que há estacas para prevenir acidentes no subsolo, no térreo, primeiro e segundo andares. “O diretor da unidade que trabalha na parte segura do prédio antigo garante verbalmente que nossas vidas não correm perigo.( Mas não assinam nenhum documento)”. As profissionais dizem, ainda, que sindicatos e o próprio Cremepe já foram informados do problema, sem que nenhuma providência tenha sido tomada até agora. ”Estamos com medo de morrer soterrados, porque sabemos que o zelo pelo patrimônio público não é grande no Brasil, onde o que é grande é a impunidade”. Ainda hoje, o  #OxeRecife informa a posição do HGV.

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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecire
Foto: Do Leitor/ Cortesia

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