Hoje é Dia do Pau-Brasil, lembram-se?

Alguém sabe que flor é essa da foto? Não é tão linda como uma rosa nem tão gigantesca quando a do mandacaru. Mas é tão perfumada que é difícil esquecê-la. Na rua onde moro, há três pés de Pau-Brasil. E não é preciso levantar os olhos para saber quando estão florando. Basta abrir a janela e, mesmo de olhos fechados, já se sabe que ele está todo amarelo. É que fica no ar um dos mais deliciosos aromas da natureza. E pensar que quase ficamos sem essa maravilhosa árvore, por ter sido impiedosamente explorada desde os tempos do Brasil colônia até o século 19… Em 3 de maio comemora-se o Dia Nacional do Pau-Brasil e é a ela que dedicamos esse post. E também aos que lutaram para que a planta símbolo do nosso país não fosse extinta na natureza.

O Pau-Brasil (Caesalpínia echinata) é uma árvore nativa da Mata Atlântica, que tinha área de ocorrência de Cabo Frio (Rio de Janeiro) até Nísia Floresta (Rio Grande do Norte).  Da família das leguminosas, era chamada pelos nossos índios de Ybyrapytanga  – ybira (madeira) e pytanga (vermelho) – devido à cor de seu cerne, que fazia a festa no tingimento das suntuosas roupas da nobreza europeia. Sua madeira é ainda hoje muito disputada por lutiês já que constitui a melhor matéria prima para a fabricação de arcos de violinos. No Brasil, três ambientalistas muito se envolveram na defesa do Pau-Brasil, nos anos 1970, quando a árvore estava praticamente extinta em sua própria terra.

São eles: os professores João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), Osvaldo Martins de Souza  (1920- 2014)  e sobretudo Roldão Siqueira (1909-1996). Autor do livro Pau-Brasil, esse desconhecido, Osvaldo  contava que o Pau-Brasil do hoje município de São Lourenço da Mata era o mais disputado pela indústria têxtil europeia, ao ponto da madeira enviada à Holanda (para ser transformada em pó) passar a ser relacionada como “procedente de Pernambuco”. Era que a coloração daqui era mais púrpura do que as de outras regiões. Do três, no entanto, o que mais lutou pela sobrevivência da planta nativa foi Roldão (foto abaixo), que em 1970 criou um movimento em defesa do Pau-Brasil, disseminando mudas da planta por todo o País.

Em Pernambuco, ele implantou vários bosques da espécie, inclusive na Universidade Federal Rural de Pernambuco e também em São Lourenço. Sua missão em defesa da árvore levou-o a ganhar apelidos como O Apóstolo do Verde (por Frederico Pernambucano de Mello) e O Cavaleiro da Branca Lua (por Ariano Suassuna). Hoje, há Pau-Brasil em praticamento todos os estados brasileiros, devido ao esforço de Roldão, cujo trabalho continuou após seu falecimento, com a Fundação Pau-Brasil. O livro  Pau-Brasil, Um sonho de Resgate é uma das relíquias que ele nos deixou. Incrível é como nossos colonizadores e os próprios brasileiros conseguiram acabar com uma planta, uma das mais prolíferas que conheço. Depois da floração, o Pau-Brasil fica coberto de vagens, que pipocam, atirando sementes em todas as direções. .

E chegam em boas distâncias. Já as encontrei até dentro de casa. A primeira vez que a eclosão simultânea aconteceu, ao lado da minha casa, o barulho era tão grande que me assustei. Atualmente o pipocar é tão familiar, que chega a ser comemorado. Dias depois, é grande a quantidade de sementes germinadas e filhotes pelo chão. Ou seja, uma linda árvore, símbolo do nosso país e que, mesmo proliferando com sua natural abundância, por pouco  quase ficávamos  sem ela. Parabéns, portanto, para Roldão, uma belíssima e doce figura, a quem tive o prazer de várias vezes entrevistar. E cujos olhos brilhavam quando o assunto era a árvore cuja defesa foi para ele uma missão de vida.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
(Foto de Roldão Siqueira / reprodução de livro)

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