Texto escrito por Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e vinculado ao teatro de resistência contra a ditadura militar implantada no Brasil a partir de 1964, “Um Grito Parado no Ar” movimenta o palco do Teatro Hermilo Borba Filho, a partir das 19h da quarta-feira (13/8). A realização é da Cobogó das Artes, que faz uma segunda apresentação na quinta (14/8) no mesmo local. Os ingressos já estão à venda via Sympla.
Também autor da famosa peça “Eles não usam black-tie”, Guarnieri apelou para o uso de metáforas, como forma de driblar as limitações impostas pelo regime da época e terminou conseguindo furar o cerco imposto pela censura. A montagem atual é uma livre adaptação assinada e dirigida por Anthony Delarte, com assistência de Gley Paes, direção executiva de Adriano Portela, que é professor, diretor de teatro e cinema, e criador da Cobogó das Artes.
Segundo Adriano Portela, o texto de Guarnieri foi “contextualizado para a atualidade”, mantendo-se “a base dos personagens, mas com outras temáticas”. E explica: “Deixamos a peça atemporal, apenas com algumas menções à ditadura”. No texto original, atores estão em grupo, em ensaio para uma montagem, quando passam em revista as dificuldades dentro e fora dos palcos, diante de tempos tão obscuros. Diz Portela:
Mais do que uma encenação, o espetáculo é um posicionamento. “Um Grito Parado no Ar” nasce do desejo de repensar o fazer teatral no Brasil, com foco no cenário pernambucano, onde arte e resistência caminham juntas. Em cena, o teatro se mostra cru e direto: cheio de urgências, precariedades, cortes, dívidas, e ainda assim, vivo. A montagem questiona o cotidiano de quem escolhe, ou não consegue evitar, viver da arte em um país que insiste em marginalizar sua cultura.
Explica que a dramaturgia, adaptada a partir do texto homônimo de Gianfrancesco Guarnieri, parte do coletivo para discutir o individual. “Regionaliza o debate e transforma bastidores em matéria-prima cênica”. Ele explica que tudo acontece dentro do espaço de ensaio, onde artistas tentam montar uma peça em meio a atrasos, cortes e cobranças. Num país onde ser artista é enfrentar uma estrutura que oprime e desvaloriza, o espetáculo provoca: como criar em meio ao caos? “Como resistir quando o alimento é escasso, o aplauso é cada vez mais raro? “Um Grito Parado no Ar” não romantiza esse percurso. Escancara. E afirma: sem arte, muitos de nós não saberíamos como existir”,questiona.
Sinceramente, a encenação é bem oportuna, pois embora vivamos em uma democracia, o tema da peça não deixa de ser atual. Afinal, no Brasil, está saindo de um período de marasmo imposto pela pandemia e pelo bolsonazifascismo da gestão passada, quando a cultura comeu o pão que o diabo amassou, e enfrentou preconceitos de toda sorte, inclusive ideológicos. E a muitos agentes da cultura só restava mesmo roer o osso. Felizmente, o setor começa a respirar de novo. Mas não custa nada refletir sobre o tema e as dificuldades e perseguições sofridas durante regimes totalitários.
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Serviço
Espetáculo: Um Grito Parado no Ar
Datas: 13 e 14 de agosto
Horário: 19h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, Recife – PE
Ingressos: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia), R$ 30 (meia social + 1 kg de alimento)
Onde comprar: Sympla
Direção e adaptação: Anthony Delarte
Assistência de direção: Gley Paes
Direção executiva: Adriano Portela
Produção e realização: Cobogó das Artes
Classificação indicativa: 14 anos
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação

O texto de Guarnieri é atemporal e,portanto, atualíssimo.
Espero que essa adaptação não altere elementos básicos do texto ao contextualizar a realidade inserindo “novas temáticas”.