Mulheres atentas e engajadas. Assim é o Projeto “Com-dor, mas sem medo: mulheres, memória, performance e política”, que encontra-se em andamento na Região Metropolitana do Recife e no interior, sob condução de duas pesquisadoras pernambucanas: Sílvia Góes e Roberta Ramos. Elas tentam resgatar histórias e resistência de mulheres nos anos repressivos (da ditadura militar no Brasil, 1964-1985) e da Operação Condor (ação articulada ente vários países, para coordenar perseguição política a militantes de esquerda nos anos 1970).
O resultado da pesquisa pode funcionar como inspiração para um espetáculo futuro da dupla. Elas estão percorrendo a RMR (Recife), a Zona da Mata (Goiana), o Agreste (Caruaru) e o Sertão (Afogados de Ingazeira), para “uma escuta crítica, sensível e performativa das memórias de mulheres que vivenciaram o contexto das ditaduras cívico-militares sul-americanas”. A primeira etapa da pesquisa se desenrola nos meses de maio e junho de 2025, com rodas de conversa, oficinas presenciais e on-line. No final do projeto, uma apresentação pública dos resultados.

O nome “Com-Dor”, no título do projeto não é à toa. As duas pesquisadoras nasceram em 1975, ano em que teve início a Operação Condor, quando intensificou-se a repressão política na América Latina. Para os que não lembram, a Operação Condor foi a aliança repressiva firmada em 1975 entre os Estados Unidos e as ditaduras militares do Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina. O pacto visava intensificar o controle e a perseguição a grupos e partidos de esquerda nesses países. E as vítimas desse processo não foram poucas.
Naqueles anos de chumbo, foi instaurado um sistema articulado de vigilância, sequestro, tortura e eliminação de opositores. Professores, estudantes, artistas e militantes passaram a ser rotulados como “subversivos” e se tornaram alvos preferenciais do regime. O saldo dessa articulação foi trágico: milhares de mortos e desaparecidos, cujas histórias continuam a ecoar como feridas abertas na memória coletiva latino-americana. Ao mesmo tempo, emergiram importantes movimentos feministas no Brasil e outros países do Continente., além da oficialização do Dia Internacional da Mulher da ONU.
Mulheres interessadas em participar e se inscrever gratuitamente podem entrar em contato com as pesquisadoras através do e-mail: com.dor.mas.sem.medo@gmail.com. O calendário de ações inclui rodas de conversa já realizadas, com mulheres nascidas na década de 1970. Elas foram convidadas a compartilhar suas memórias e perspectivas sobre o passado e o presente. A assessoria do projeto não informou os dias das visitas ao interior do Estado.

No final de semana, começaram Oficinas presenciais com as artistas da dança e pesquisadoras, com improvisação, biodrama, teatro documental e autobiografia (dias 10 e 24 de maio, das 10h às 13h, na UFPE/CAC). Também estão programadas oficinas on-line com as artistas da dança e pesquisadoras (11 e 25 de maio, das 10h às 12h). O projeto inclui apresentações públicas do resultado da pesquisa e roda de conversa com as artistas e pesquisadoras (dia 14 de junho, em local a ser divulgado em breve, e das 16h às 18h).
As duas artistas são figuras reconhecidas do cenário da dança e de pesquisas sobre o corpo, com espetáculos vanguardistas de dança e pesquisas na área de dança e corpo. “Com-dor, mas sem medo: mulheres, memória, performance e política” busca reconstruir narrativas silenciadas, aproximando vozes e histórias de mulheres que viveram ou herdaram os impactos das ditaduras. Através da arte e da escuta, o projeto aposta na força coletiva da memória e da performance em dança como instrumentos de resistência, cuidado e transformação social. Vamos aguardar o espetáculo que resultará dessas incursões.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Projeto Com-Dor, mas sem medo: mulheres, performance e política
Projeto maravilhoso Letícia! Não conhecia. É importante que aconteçam esses movimentos para que os mais jovens nunca esqueçam dessa página triste da nossa história! Parabéns pela postagem