A história da vida privada sempre desperta o interesse do público. Se não fosse assim, livros sobre biografias, cartas e memórias não fariam tanto sucesso. E celebridades não pipocariam tanto nas redes sociais se não compartilhassem o seu dia a dia. E para quem gosta de ler e saber mais da vida de grandes nomes da literatura brasileira, eis uma boa sugestão: “Escritores são humanos, Histórias Cotidianas da Literatura Brasileira”, do pernambucano Carlos Costa, que vai ser lançado às 19h da quarta-feira (8/11), na Livraria Jaqueira, no Bairro do Recife. A iniciativa da publicação é da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
Louco por livros e bibliotecas – “ali mergulhava na ficção e o mundo desaparecia ao meu redor” – e de tanto ler, o autor começou a questionar: “Os escritores são mestres em inventar estórias, mas como eram suas histórias pessoais? Quais eram seus personagens reais, seus conflitos reais? Cada pessoa tem sua história, seu cotidiano”, diz. E acrescenta: “Não seria diferente com nossos cânones literários, afinal são pessoas de carne e osso”. Ele lembra que, vez por outra, deparava-se com “relatos impressionantes” da vida de escritores. E estes, com certeza, não são poucos. “Foi então que resolvi escrever um livro, exatamente sobre isso: a vida cotidiana dos nossos escritores sem retoques nem remendos”. Que bom, não é? Nós, leitores, saímos ganhando com um livro tão informativo, com mais de 500 páginas.
Entre os fatos curiosos por ele narrados encontra-se, por exemplo, a vida de Bento Teixeira (1561-1618), autor daquele que é considerado o primeiro poema épico escrito em Pernambuco: “Prosopopeia”. Português, desembarcou no Brasil em 1566, chegando a morar em Ilhéus (BA); Olinda, Igarassu e Cabo de Santo Agostinho (PE). Além do feito literário, ele parece ter sido, também, o primeiro corno famoso da nossa história. É que mudava de cidade, porque a esposa era muito namoradeira, e ele terminou praticando um feminicídio cruel contra Filipa Raposo (o assunto, aliás, é tema do belo romance “RiosTurvos“, de Luzilá Gonçalves). No seu livro, Costa não faz referência à calorosa amizade de Bento com a lendária Branca Dias (1515-1589). Ela era tão forte que, às vezes, despertava suspeitas de que ambos tinham um caso.
Outra figura curiosa era Gregório de Matos (1636-1696), o Boca do Inferno. Esculhambava a Igreja Católica mas já trabalhara para ela como desembargador eclesiástico. E era em convento que se escondia dos seus desafetos, que queriam se vingar dos seus ataques verbais. Namorador, fazia versos elogiando as mulheres, principalmente “as mulatinhas da Bahia”, porém as esculhambava com a mesma verve quando estas o rejeitavam. Não deve ter sido um bom marido. Tanto que sua esposa, Maria dos Povos, decidiu abandoná-lo. Ela foi para a casa de um tio, Vicente, que a repreendeu e ordenou que Gregório a recebesse de volta. O poeta aceitou, desde que ela “fosse trazida por um capitão do mato, amarrada como uma escrava fugidia”. A mulher voltou, então, para casa, “humilhada pelo marido”, segundo o autor.
No começo, cheguei a pensar que o livro dedicava um capítulo a cada autor. Mas não é o que acontece. O capítulo “Libertas quae sera tamen”, por exemplo, aborda personagens como Tiradentes (1746-1792), Cláudio Manoel da Costa (1729-1789), Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), Alvarenga Peixoto (1742-1792), entre outros que agitavam a Capitania de Minas Gerais. Alcovas, namoricos, casos escondidos devido ao desnível social entre os amantes, filhos ilegítimos não reconhecidos e assumidos por pais postiços nos levam às ladeiras de cidades como Mariana, São João Del-Rei, Sabará do século 18. Também chama atenção o capítulo “Uma longa histórica romântica”, pelo qual desfilam histórias privadas de Gonçalves Dias (1823-1864),Gonçalves Magalhães (1811-1882), José de Alencar (1829-1877), Álvares de Azevedo (1829-1877), Manuel de Macedo (1820-1882).
O livro passa em revista, ainda, a vida de outros grandes nomes de nossas letras como Machado de Assis (1839-1908), Euclides da Cunha (1866-1909) e Osvald de Andrade (1890-1954). O primeiro já esteve “desolado e sem prumo”. O segundo protagonizou uma tragédia familiar. Desconfiado que a mulher, Anna, o traía ele disparou tiros contra Dilermano de Assis. Militar, este revidou e matou o autor de “Os Sertões”. Anos depois, o filho de Euclides tenta vingar a morte do pai, mas também é assassinado. Já Osvald era rico, descendente de aristocracia cafeeira, mas ao morrer, deixou mulher e filhos mergulhados em hipotecas e dívidas. Ainda não cheguei à metade do livro, que é leve, informativo, divertido. Porém, senti falta de um índice onomástico que facilitasse a vida do leitor. Em ordem alfabética por autores citados, o índice enriqueceria mais ainda a publicação. Vocês não acham?
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Serviço
Lançamento do livro “Escritores são humanos – Histórias Cotidianas da Literatura Brasileira”, de Carlos Costa, Editora Cepe
Quando: Quarta, 8 de novembro
Horário: 19h
Onde: Livraria Jaqueira (Rua da Madre de Deus,110, Bairro do Recife
Preço: R$ 60,00
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Redes sociais e Cepe
Você como sempre trazendo excelentes sugestões pra gente Letícia. O OxeRecife é um poço de cultura e saber! A propósito, muito interessante a proposta desse livro! Vou querer o meu exemplar!! Obrigado
Fiquei curioso por esta leitura! A matéria provocou isso.