Hermilo Borba Filho vive. Se o escritor, teatrólogo, jornalista, diretor e dramaturgo fosse vivo, estaria completando 104 anos em julho. Por esse motivo, o pernambucano de Palmares está sendo festejado com programação virtual que contempla vídeo, debates e produções sobre vida e obra do autor de Agá, Os caminhos da solidão, Sol das Almas e de muitas peças para o teatro, como A barca de ouro, João sem terra e Electra no circo.
Hermilo Borba Filho assegurou identidade e raízes ao teatro regional e foi o fundador do Teatro Popular do Nordeste (TPN), que por muito tempo funcionou no bairro da Boa Vista encenando peças de autores da Região. Também estudou manifestações como o bumba-meu-boi, o fandango, o mamulengo e o pastoril, sobre os quais publicou o livro Espetáculos Populares do Nordeste.
As homenagens a Hermilo decorrem de parceria da Prefeitura do Recife (por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife) com pa Criative’Se Cultural, o que possibilitou um extenso calendário programações virtuais, gratuitas e abertas ao público. As atividades já começaram no Instagram, no perfil da Criative’Se (@criativese.cultural), com posts sobre obra e vida de Hermilo. No dia 8 de julho, data em que o teatrólogo e fundador do Teatro Popular do Nordeste (TPN) completaria 104 anos, foi disponibilizado por lá, a partir das 22h, uma vídeo performance protagonizada por João Pinheiro.
O vídeo inspira-se no livro Agá, romance caleidoscópio, publicado pela primeira vez em 1974, durante a ditadura militar, subvertendo o Brasil duro e truculento daquela época com o realismo mágico, fantástico e erótico de Hermilo. Depois das lives e debates da sexta-feira (9/7), a programação segue nos próximos dias 13, 14, 15 e 16 de julho, com o Especial Hermilo Borba Filho. Durante esses quatro dias, serão exibidos, também no YouTube, sempre às 19h, quatro programas sobre a vida e a obra de Hermilo, produzidos pela Criative’Se Cultural, plataforma de empreendedorismo cultural, que conecta as pessoas através do teatro, desenvolvendo estratégias de universalização de acesso às artes da cena.
Lembro muito de Hermilo. Estive com ele várias vezes, pois ele e meu pai eram amigos irmãos. Recordo das vezes que nos encontrávamos, em restaurantes do Recife, ele já com a pressão muito alta e com problemas cardíacos, quando sua companheira, Leda Alves, ia até a cozinha, orientar no preparo da comida. Ela levava um frasquinho com o tantinho de sal limitado que ele podia consumir por refeição. E pedia aos chefs – que naquele tempo eram chamados de cozinheiros – que fizesse a refeição dele separada, com as restrições recomendadas pelos médicos. Posteriormente, ele foi hospitalizado em São Paulo, quando meu pai o visitava quase diariamente, levando os originais do livro que escrevia, para revisar enquanto o amigo dormia. As cartas entre os dois, trocadas nos anos de chumbo da ditadura, foram publicadas pela Cepe. A correspondência entre Osman Lins e Hermilo tem muitas “pérolas” políticas que lembram os dias vividos pelo Brasil de hoje.
Leia também
Vitória: Teatro de Osman Lins em cena
Teatro de Osman Lins em discussão
Cartas inéditas entre Osman Lins e Hermilo chegam ao palco
Ditadura: a dificuldade dos escritores
Dois grandes amigos: Osman e Hermilo em debate no bairro do Recife
Santa Isabel tem Problemas Inculturais
Marcha Fúnebre de Osman Lins tem exibição no Arquivo Público
O mergulho na obra de Osman Lins
O dia que esqueci que sou repórter
Só dá mulher em Lisbela e o Prisioneiro
Lisbela e o Prisioneiro está de volta
A Arte de ser ignorante
O “Morcego Cego”, de Gilvan Lemos
Anco Márcio resgata toda obra do pernambucano Luiz Marinho
Por que somos todos Clarice?
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Andréa Rego Barros / Divulgação / PCR e Acervo #OxeRecife
