Em terra movida a vandalismo, espera-se que o programa municipal Colorindo o Recife possa mudar a face da cidade, onde estátuas, monumentos públicos, igrejas, prédios particulares e até museus, sofrem a ação de pichadores. Gente realmente sem noção, para a necessidade de se preservar o patrimônio público e privado. Não sei se vocês já perceberam um fenômeno que acontece em nossas ruas: os pichadores respeitam os grafiteiros.
Querem um exemplo? Passem no Parque da Macaxeira, que fica entre Apipucos e Macaxeira, na Zona Norte do Recife. Reparem o imenso imóvel onde hoje funciona uma escola estadual, mas que já foi uma indústria têxtil um dia. Perceberam? As paredes posteriores da edificação e também sua linda fachada estão pichadas. Há inscrições, mensagens, desenhos não concluídos, tinta sobre tinta, uma borradeira infeliz. Agora, observem a lateral do prédio, onde tem um mural feito pelo artista Manuel Quitério. Está tudo preservado. Ou seja, o pichador respeita o grafiteiro. Há, também, murais preservados sob pontes e viadutos em muitos locais do Recife.
Portanto, viva os grafiteiros. No Parque de Santana, também há outro mural do Coletivo Pão e Tinta. Passei lá essa semana, poucos dias após a pintura. E está perfeito, sem nenhuma pichação. A própria prefeitura teve que apelar para a grafitagem no Compaz Ariano Suassuna, que fica no Cordeiro, cujas paredes viviam eternamente pichadas. Essa semana, a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife informou que até março do próximo ano a nossa cidade ganhará 15 paineis com grafitagem, através do Program Colorindo o Recife. Os espaços que ganharão murais já estão definidos nos bairros de Santo Amaro, Pina, Madalena, Ilha do Retiro, Arruda, Torreão, Encruzilhada, Boa Viagem, Brasília Teimosa e Afogados. E a coisa boa, é que os grafiteiros vão ser remunerados por cada serviço: R$ 5 mil.
Quem quiser, ainda pode se inscrever para a empreitada. Mas tem que comparecer ao sétimo andar do edifício sede da Prefeitura, e levar o portofólio. Ao mesmo tempo que abre inscrições, a Stel anuncia o Festival Recife Urbana Arte (R.U.A), que acontece em março de 2018, como parte da programação de aniversário de nossa cidade. Além de grafitagem, o R.U.A terá oficinas, mercado pop, esportes e shows musicais. Valorizar a arte de rua é mesmo uma boa. Pelo menos, os pichadores respeitam os grafiteiros e é melhor termos muros, pontes e viadutos coloridos do que emporcalhados com tintas pretas. Em Lisboa, até 1970, o grafismo era arte de protesto. A partir de 2008, a cidade ganhou o programa Galeria de Arte Urbana, que viabiliza e organiza espaços para artistas em paredes e prédios. Ou seja, o próprio poder público apoia os grafiteiros. Resultado: a imensa galeria de arte a céu aberto transformou-se em mais uma atração turística. Viva pois, o artista de rua. Tanto lá quanto cá. Nossos murais, um dia, ainda vão ser roteiro do Olha! Recife.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife