“Eu bem sabia / Que esse amor, um dia, / Também tinha seu fim: / Essa vida é mesmo assim. / Não penses que estou triste nem que vou chorar / Eu vou cair no frevo / Que é de amargar”. Alguém lembra desses versos? São de Capiba. E por falar nele… viva! . Em um Recife que não tem o menor apego à memória – estão aí o Bar Savoy, ex Ponte Giratória e a descaracterização de bairros históricos – o Governador Paulo Câmara (PSB) anuncia uma boa providência. Decretou a desapropriação da casa onde residiu Lourenço Barbosa, o Capiba, compositor que nos deu alegria, durante tantos carnavais.
A residência onde Capiba morou com sua mulher, Zezita, e um monte de gatos (sim, ele adorava os felinos) vai ser incorporada ao patrimônio de Pernambuco. O imóvel fica na Rua Barão de Itamaracá, número 369, no bairro do Espinheiro, no Recife. A casa tinha sido colocada à venda pela viúva. E tomara que a companheira do músico, de tantos anos, receba o que merece. E torço para que a casa não seja comprada e incorporada simplesmente ao acervo do Estado. Há que se dar uma finalidade a ela, transformando-a em uma casa museu e quem, sabe, um local para que as novas gerações aprendam a tocar frevo.
Bom mesmo é que se busque parceria com a iniciativa privada, a exemplo do que ocorreu na implantação do Paço do Frevo, hoje uma referência no roteiro turístico de Pernambuco. No decreto do Governador, consta que as despesas com a execução da desapropriação serão de responsabilidade do Tesouro Estadual. A responsabilidade de desapropriação do imóvel ficará a cargo da Procuradoria Geral do Estado. Lourenço da Fonseca Barbosa, mais conhecido como Capiba, nasceu no município de Surubim (Agreste) em 28 de outubro de 1904, mas foi no Recife que se incorporou à história dos nossos carnavais.
O artista compôs mais de 200 canções, em sua maioria frevos, ritmo que o consagrou como uma das maiores expressões da música pernambucana e brasileira. Capiba morreu em 31 de dezembro de 1997, tendo deixado um legado que também reúne sambas e músicas eruditas. Além de frevos, ele compôs valsas, maracatus, cirandas. E é por causa de uma de suas músicas, que uma das maiores estrelas da MPB chama-se Maria Betânia. Entre os frevos conhecidos de Capiba encontram-se clássicos do nosso carnaval como É de amargar, Tenho uma coisa para lhe dizer, Manda embora essa tristeza, Quem vai para farol é o bonde de Olinda, Quando é noite de lua, Deixa o homem de virar, A pisada é essa, Vamos prá casa de Noca, Que é que eu vou dizer em casa. No Recife, o mais famoso intérprete dos seus frevos é o cantor Claudionor Germano.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Aloísio Moreira / Divulgação / SEI e Letícia Lins