Goiana: território quilombola, mito Malunguinho e primeira igreja jesuíta

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Alvo recente de uma websérie com objetivo de guardar os saberes ancestrais da cozinha quilombola do Litoral Norte de Pernambuco, a comunidade de São Lourenço, localizada no distrito de Tejucupapo, em Goiana, tem história de sobra para contar. E bota história nisso. Por ali ficava o núcleo de um dos maiores quilombos do Nordeste – o Quilombo do Catucá – e tanto é assim que após dezoito anos de mobilização, o território foi reconhecido como quilombola, em 2021. Tem mais: o vilarejo ostenta a  Igreja de São Pedro Mártir, que é considerada não só como como o primeiro templo construído no município de Goiana, mas apontada como o primeiro implantado por jesuítas em Pernambuco. E que é tido como um dos mais antigos erguidos por aquela ordem religiosa no Brasil.

Detalhe: a igrejinha, em estilo maneirista, é tombada pela Fundarpe e pelo IPHAN. Ela data do século 16, por volta de 1555. E foi elevada à condição de paróquia pela Igreja Católica, em 2023, com área de jurisdição sobre  14 localidades, incluindo Tejucupapo, Ponta de Pedras, Catuama, Carne de Vaca, Atapuz e Malvinas. Simples e sem luxo, a igrejinha está bem conservada e ostenta imagens sacras da época. No mês de agosto, a população de Goiana realiza a Procissão do Carrego de Lenha, em honra de São Lourenço Mártir. Os fiéis carregam gravetos, que são queimados ao final do cortejo. O evento é Patrimônio Imaterial de Pernambuco. Já  o quilombo que teria começado a se agrupar no século 19, deixou a figura do Maluguinho como herança para a história. Diferente de Zumbi dos Palmares – herói da resistência contra a escravidão – Maluguinho extrapolou o plano material e virou divindade nos cultos da Jurema, religião que junta costumes africanos e indígenas.  Entre as manifestações culturais da localidade, há grupos de dança de coco e ciranda. Estive em São Lourenço com o Grupo Bora Preservar, no mês de setembro, quando visitamos Goiana, que fica a 60 quilômetros do Recife.

Em São Lourenço,  fomos recebidos por uma pequena representação do Grupo Cultural Quilombo do Catucá, comandado por Dadá Quilombola. Visitamos, também, as artesãs Quilombolas de São Lourenço,  que representam um bom exemplo de economia criativa e sustentável. Utilizando conchas de moluscos –   de dezessete espécies diferentes – e o crochê, elas produzem roupas, bolsas, acessórios como colares, brincos, pulseiras. Aproveitam as cascas de mariscos que iriam para o descarte, criando peças para o vestuário. As peças produzidas pelo grupo fazem o maior sucesso na Fenearte, a maior feira de negócios do artesanato da América Latina, que ocorre anualmente no mês de julho em Pernambuco. Na última edição, em 2025, tiveram direito a destaque, ao mostrar os looks na passarela fashion do evento.

A nota negativa a São Lourenço, como já disse antes, ficou por conta de um local muito bonito, atrás da Igreja, que deverá ser um mirante no futuro. Mas que, pelo menos por enquanto, parece ter virado um depósito de lixo. Estava assim quando lá estivemos. Fica em área bem elevada, de onde a gente vê rio com sua mata ciliar e mar. Em caso de lixo orgânico, o chorume vai escorrer para a parte baixa, chegando até os cursos d’ água. Uma pena, que um local tão preservado e ainda tão bonito sofra esse tipo de agressão ambiental.

Nos links abaixo, mais informações sobre Goiana e sobre o Bora Preservar e um pequeno vídeo sobre grupo cultural, em frente à Igreja de São Lourenço Mártir.

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Texto e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins, Emanoel Correia/ Bora Preservar e Anderson George / Divulgação / Acervo #OxeRecife

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