Ao longo de minha vida de repórter, entrevistei muitos escritores e artistas. Entre eles, Ariano Suassuna, Gilberto Freyre, Lula Cardoso Ayres, Wellington Virgulino, Cícero Dias, Francisco Brennand, J.Borges, Gilvan Samico, o qual me revelou não só a grandeza de sua obra, como também me deixou a impressão de especial figura humana, com uma paz que lembrava a de um monge budista. Conversava enquanto trabalhava, porém dizendo-se “preguiçoso”. E disso eu jamais esqueci. Não alterava a voz, nem mesmo quando se referia aos personagens bíblicos e seus homens e animais fantásticos, que lembram o universo mágico da literatura de cordel e das xilogravuras populares.
Gravurista, desenhista, pintor e professor Gilvan José Meira Lins Samico (1928-2013) é considerado por muitos críticos o maior expoente da xilogravura no Brasil. É justo, portanto, que em 2022 seja o homenageado da Companhia Editora de Pernambuco, que reuniu doze trabalhos do artista, para ilustrar cada mês de 2023 no calendário que já virou tradição de fim de ano da Cepe. E que é alvo de disputa não só entre clientes e fornecedores, mas também de colecionadores. As imagens foram captadas pelo fotógrafo Helder Ferrer, que é também responsável pela curadoria do calendário comemorativo.
De acordo com o jornalista e editor da Cepe, Diogo Guedes, as fotos retratam o trabalho de Gilvan Samico em suas diferentes fases: dos anos 1960 até a década de 10 do século 21, passando pelos anos 1970, 1980 e 1990. “Ele é um artista conhecido do grande público, um grande nome da xilogravura brasileira, que fala muito sobre as nossas referências, nosso imaginário. Samico se apropria do imaginário popular e da literatura do cordel e cria um estilo próprio”, declara Guedes. “Os pioneiros da arte moderna no Nordeste introduziram aspectos da arte popular nas suas obras, mas estes eram aspectos predominantemente formais. Em Samico, o que vigorou foram aspectos da alma do povo, seus mitos e lendas, como se vê em João e Maria e o pavão azul, Juvenal e o dragão ou O Senhor do Dia”, afirma o artista Raul Córdula, ao apresentar o gravurista. “O conjunto da arte de Samico, especialmente da produção em xilogravura, forma um aglomerado de fatos poéticos que nasceram da língua do povo, onde as imagens são oriundas da imaginação mais profunda de nossa língua”, destaca Córdula, que fala não só da influência da cultura popular, como também do Movimento Armorial na disputada obra de Samico.
Diferente dos anos anteriores, o calendário 2023 tem formato vertical e foi impresso em papel offset, menos brilhoso, para privilegiar e não interferir na obra do homenageado. Entre as imagens selecionadas para compor o calendário estão A Luta dos Anjos (1968), em janeiro; No Reino da Ave dos Três Punhais (1975), em março; O Enigma (1989), em agosto; e O Devorador de Estrelas (1999), em outubro. A obra da capa é Alexandre e o Pássaro de Fogo, de 1962. Helder tem um vasto acervo de fotos de Samico e das criações do artista, que nasceu no Recife e morava em Olinda, onde mantinha seu ateliê, na Rua de São Bento. Infelizmente o calendário não será vendido. Uma parte é distribuída com instituições do Governo do Estado e outra parte é destinada a ações promocionais da editora pública. Mantendo o mesmo padrão do ano passado, quem fizer compra de livros e periódicos avulsos (Revista Continente e jornal literário Pernambuco), com valor a partir de R$ 100, leva um calendário. Válido apenas para as lojas físicas da Cepe, de 22 a 31 de dezembro. Em 2021, o homenageado foi o educador Paulo Freire (1921-1997). Em 2022, o pintor Vicente do Rego Monteiro (1899-19970).
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Serviço
Lançamento do Calendário da Cepe 2023, “O Devorador de Estrelas”, dedicado a Gilvan Samico
Como conseguir: O calendário não está à venda, mas o leitor tem direito ao brinde a cada compra de R$ 100 livros da Cepe
Livrarias da Cepe onde pode ser encontrado:
Paulo Freire (Sede) – Rua Coelho Leite, 530, Santo Amaro, Recife. Segunda a sexta, 8h às 16h30. Fone: (81) 3183-2700
Tarcísio Pereira (Centro de Artesanato de Pernambuco) – Avenida Alfredo Lisboa, Marco Zero, Bairro do Recife. Segunda a sábado, 9h às 19h/Domingo, 9h às 17h. Fone: (81) 9 9488-3731
Germano Coelho (Mercado Eufrásio Barbosa) – Avenida Doutor Joaquim Nabuco, Varadouro, Olinda. Terça a domingo, 9h às 17h. Fone: (81) 9 9488-3730
Ramires Teixeira (Museu do Estado de Pernambuco) – Avenida Rui Barbosa, 960, Graças, Recife. Terça a sexta, 11h às 17h/Sábado, 14h às 17h. Fone: (81) 9 9488-373
Sesc Cepe Editora (CPC Sesc) – Rua Cônego Benigno Lira, s/n, Centro, Garanhuns. Segunda a sexta, 9h às 18h/Sábado, 9h às 20h/Domingo, 10h às 18h. Fone: (87) 3762-3154
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Reproduções de obras de Samico / Helder Ferrer
Obrigada, Letícia, vou correndo adquirir o meu!
Texto maravilhoso como sempre Letícia!!! É um exercício mental gratificante. Você escreve sobre os artistas e nos coloca diante de todas as informações, sem sentirmos falta de nada!!