Fórum quer Arco Metropolitano sem destruição da Mata Atlântica

Anunciado há um longo tempo, porém nunca realizado, o chamado Arco Metropolitano parece que vai, finalmente, sair do papel. Ele foi confirmado recentemente pelo Governador Paulo Câmara (PSB), mas o Fórum Socioambiental de Aldeia questiona o traçado original e recomeçou a colher assinaturas para que ele seja modificado. É que os moradores daquela ainda verde área do Recife afirmam que do jeito que está, o Arco Metropolitano atravessa a Área de Proteção Ambiental Aldeia Beberibe, devendo – portanto – atingir de “maneira severa” vegetação remanescente de Mata Atlântica. Como se sabe, a Mata Atlântica é um dos mais ameaçados biomas do Planeta.

O Movimento Arrudeia acaba de ser lançado nas redes sociais. O abaixo assinado, endereçado ao Governador Paulo Câmara, lembra que a APA foi criada em 2010 “para proteger importante faixa de Mata Atlântica e mananciais que abastecem a Região Metropolitana”. Afirma que seu território abriga, ainda, Área de Proteção de Mananciais, também ratificada por lei estadual. O Fórum não é contra o Arco, porém não aceita o traçado proposto pelo governo estadual porque vai “destruir matas, matar animais silvestres, impactar nascentes e cursos d´água e desestabilizar mais ainda o regime de chuvas de toda a região”. Na verdade, a APA funciona como uma espécie de pulmão de toda a RM. Quem quiser assinar a petição é só acessar o link https://arrudeia-arcoemaldeianao.eco.br/?ulpb_post=arrudeia.

A faixa amarela é a proposta por ambientalistas e moradores de Aldeia. A mais curta é a proposta pelo governo para o Arco Metropolitano.

O Arco Metropolitano é uma obra prevista há três décadas e que torna-se muito necessária, devido ao estrangulamento cada vez maior da BR-101. Ele liga a BR-101 Norte (em Goiana, município no qual está a Fiat-Chrysler) à BR-101  Sul (no município de Cabo de Santo Agostinho, onde fica o Complexo Industrial Portuário de Suape). De acordo com os órgãos oficiais, o Arco Metropolitano será implantado “sem atravessar áreas urbanas”. Porém, os moradores de Aldeia questionam o trecho que passa entre a BR-101 (em Igarassu) e a BR-408, em São Lourenço da Mata. Eles sugerem mudança no traçado para proteger a APA Aldeia-Beberibe, “livrando as matas da Pitanga e do Exército de uma futura destruição”. Segundo o Fórum, a mudança no traçado  “acrescenta menos de 20 quilômetros ao traçado hoje proposto”.

A campanha Arrudeia tem logomarca, com o bicho-preguiça,  espécie comum à Mata Atlântica, e ainda muito presente em Aldeia. Consta, também, de cartazes, ações de comunicação, redes sociais, além de uma intensa articulação junto à comunidade, culminando com o abaixo assinado que será encaminhado às autoridades. A coordenação é do Fórum Socioambiental de Aldeia, entidade que, há 17 anos, coordena ações de promoção e resistência daquela região formada por áreas de oito municípios do Grande Recife.  A luta do Fórum, afirmam e reafirmam os dirigentes da instituição, “não é contra o Arco Viário Metropolitano, obra reconhecida como importante e necessária, mas sim contra o traçado proposto pelo Governo do Estado, que, se materializado, provocará enorme degradação ambiental”.

“Quem de bom senso se oporia a uma obra que trará tantos benefícios à região, que desafogará gargalos como o de Abreu e Lima e beneficiará todo mundo? Não aceitamos é que, em nome desse desenvolvimento, se destrua a natureza, colocando em risco áreas importantes de mata, mananciais e reservas ecológicas. O traçado está equivocado e deve mudar”, afirma Herbert Tejo, presidente do Fórum de Aldeia. Na terça,houve reunião com moradores de Aldeia e Paudalho, dois dos municípios que integram a APA. E outra, com moradores de todos os outros que fazem parte da Aldeia Beberibe, já está sendo articulada.  Herbert Tejo ressalta que essa é a terceira tentativa de emplacar praticamente o mesmo traçado. Uma saga obstinada que insiste na destruição dos poucos fragmentos de Mata Atlântica no estado.

“A luta de resistência da comunidade teve início em 2012, quando o traçado do Arco foi proposto por um consórcio liderado pela Odebrecht. Confrontada, a iniciativa resultou em fracasso. Em 2014 foi a vez da licitação do DNIT, que se utilizou de traçado semelhante, desenvolvido e pago pelo erário estadual, e impugnada pelo Fórum, também resultou em fracasso. Ambas as tentativas malograram em função de problemas ambientais. Para surpresa de todos,  o Governo do Estado, através da AD DIPER, lançou, agora, um edital para contratação de um Projeto Básico e Estudos Ambientais para o trecho Norte e anuncia como Traçado Proposto exatamente o traçado licitado pelo DNIT e rejeitado, na época, pelo próprio CPRH e pelo Ministério Público Federal”, explica.

O presidente do Fórum lembra, ainda, que se trata do mesmo traçado que faz o Arco passar por terras de duas usinas (Petribu e São José), atingindo o que resta de reservas da mata. “Nossa proposta evita tudo isso e ainda abre caminho de novas perspectivas econômicas para a região oeste, beneficiando Araçoiaba e outras cidades de uma região pobre e desassistida. Propomos alternativa sem degradar um dos biomas mais ameaçados do planeta, que é a Mata Atlântica. Ou o que resta dela”, reforça Tejo.

A campanha encabeçada pelo Fórum foi amplamente discutida pela comunidade e por amigos de Aldeia. O autor da marca que, a partir de agora, personifica a luta dos aldeienses contra o atual traçado do Arco Metropolitano, é o pernambucano Jorge Hopper (59), designer com vasta experiência em publicidade e campanhas políticas e institucionais. Ele não mora em Aldeia, mas abraçou a causa em nome da preservação da natureza e do bem estar dos moradores.

Jorge Hopper conta que se procurou utilizar uma expressão bem popular para passar a mensagem de que o Arco deve, sim, ser feito, mas com outro traçado: “Arrudeia, corruptela de arrodeia, traduz bem o sentimento da comunidade. E a preguiça entrou na marca por ser um animal simpático, muito comum em Aldeia e muito tranquilo. Como se pretende que o lugar continue sendo”.

Veja o vídeo preparado pelo Fórum Socioambiental de Aldeia, que é muito esclarecedor sobre a vulnerabilidade da Mata Atlântica:

Nos links abaixo, você pode conferir outras informações sobre a Apa Aldeia Beberibe e a Mata Atlântica

Leia também:
Pandemia atrapalha produção de mudas para a Mata Atlântica
Mata Atlântica ganha viveiro para produção anual de 100.000 mudas
Conhecendo a Mata Atlântica
Domingo tem trilhas pela natureza
Primeiro corredor ecológico vem aí
Mata Atlântica ganha agentes populares
“Pulmão” protegido no Grande Recife
Desmatamento em “pulmão” do Recife
Não deixe a Mata Atlântica se acabar
Parque Dois Irmãos triplica de tamanho
Ecoverdejante: Trilhas pelas matas
Parem de derrubar árvores (em Aldeia)
Parem de derrubar árvores (em Camaragibe)
Apa Aldeia Beberibe: Devastação de bioma em extinção
Pulmão do Recife, Apa Aldeia Beberibe completa década
Prefeitura destrói área protegida. Pode?
Prefeito destrói  mata e pede acordo
Desmatamentos ilegais em Aldeia
Novos desmatamentos em Aldeia
Aldeia tem novos desmatamentos
As matas de cimento de Paulista
As riquezas da Mata Atlântica
Mata Atlântica: Corredores ecológicos

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Ecoverdejante  e Cprh/ Acervo #OxeRecife
Vídeos e ilustrações: Fórum Socioambiental de Aldeia

Continue lendo

One comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.