Feminista e sufragista, Martha de Hollanda tem poemas publicados 94 anos depois: “Delírio do Nada”

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Pelo que se vê, a pernambucana Martha de Hollanda (1903-1950) está em muita evidência. E era para estar mesmo, pois foi uma mulher à frente do seu tempo, e sobre a qual os intelectuais que com ela conviveram, costumavam dela falar com muito entusiasmo, como era o caso do poeta Mauro Mota (1911-1984). Por muitas vezes, ele despertou minha curiosidade ao comentar figura tão avançada para os padrões da época. Agora acaba de ser lançado o livro “Delírio do Nada”, que foi publicado há exatos 94 anos e do qual poucos hoje têm conhecimento. Trata-se de um “tesouro poético”, segundo Beatriz Scortecci, responsável pela organização da obra.

Palmas para Beatriz. “Delírio do Nada é uma poesia de vísceras que faz estourar cada molécula do mundo”, diz a organizadora, acrescentando que Martha é “hábil nas reflexões e também nas paixões”. Para ilustrar os 17 poemas da pernambucana, ela recorreu a ilustrações de época,  contribuindo “com um novo fôlego e substância” para os versos de Martha. Mas escrever poemas, vestir-se com ousadia para o seu tempo não era tudo na vida de Martha. Ela integrou o trio de mulheres sufragistas de Pernambuco, as quais lutaram pelo direito ao voto e à vida política do país. As outras eram Celina Nigro e Edwiges Sá Carneiro, esta a primeira mulher a integrar uma academia no Brasil, no caso a Academia Pernambucana de Letras. Martha, aliás, foi a primeira mulher em Pernambuco a conseguir título de eleitor, em 1928. E o fez pela via judicial, porém a decisão seria posteriormente cassada com um recurso. Não sei o nome do juiz machista de plantão no Tribunal de Justiça à época.

O fato é que esse magistrado perdeu uma boa oportunidade de passar para a história, pelo pioneirismo  contra o preconceito de gênero, se tivesse liberado o voto. Inconformada com a decisão, ela fundou a Cruzada Feminista Brasileira, entidade que passou a presidir para lutar pelo direito à mulher de participar da política. Somente quatro anos depois, em 1932, as brasileiras poderiam ser consideradas cidadãs de fato e de direito, com a liberação do voto feminino. O livro “Delírio do Nada” é o primeiro título da Coleção Myosotis, da Editora Scortecci. A editora, Beatriz, tem apenas 24 anos. Em novembro de 2024, um outro livro sobre a pernambucana foi lançado em São Paulo: “Martha de Hollanda, feminista e feminilidade”, de Cristina Inojosa (1940-2007),a primeira autora a relatar a trajetória de pernambucana, que esteve para os anos 1930 em Pernambuco como Patrícia Galvão para os intelectuais da São Paulo, durante a Semana de Arte Moderna. Martha pode não ter ficado tão famosa quanto Pagu. Mas era tão musa no Leão do Norte, quanto sua colega na terra da Pauliceia Desvairada.

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Serviço
Delírio do Nada, Martha de Holanda
Organização de Beatriz Scortecci, livro de poemas, 132 páginas
Valor: R$ 50
Onde achar: nas plataformas Livraria Scortecci, Amazon, Livraria do Mercado, Magalu, Estante Virtual, Martins Fontes Paulista, ou através das distribuidoras Inovação e Dizy

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação

2 comments

  1. Já vou providenciar o meu exemplar!
    Viva Martha de Holanda pioneira na luta pelas mulheres terem o direito de votar e de serem cidadãs plenas.
    E no caminho, um juiz retrógado resolveu impedir…
    Viva a liberdade!

  2. Delírio do Nada, da sufragista e poeta pernambucana Martha de Hollanda, é o primeiro volume da Coleção Myosotis, que pretende resgatar a obra de escritoras esquecidas. Todas as novidades estão disponíveis no perfil da Coleção Myosotis no Instagram: @colecaomyosotis
    O livro Delírio do Nada, bem como os próximos a serem publicados pela Scortecci Editora, estão à venda na Livraria Scortecci, na Amazon e em vários sites de comércio eletrônico.
    Martha de Hollanda é um ícone da cultura e da política pernambucanas e do País! Ajude a divulgar sua obra para que as novas gerações tenham o privilégio de conhecê-la.

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