Faturamento do turismo cresce 32 por cento no primeiro trimestre. Foi a volta do carnaval?

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Enquanto fui repórter de veículos de circulação nacional – como o saudoso Jornal do Brasil, Revista Veja e posteriormente de O Globo – lembro-me bem das estatísticas que me eram apresentadas na Sudene, sobre a “explosão” da produção agrícola que, de vez em quando, acontecia no Nordeste. Havia anos, em que os percentuais de crescimento da combalida economia da Região tinham a ver com a “expansão” da agricultura. Mas o que ninguém lembrava de dizer era que os eufóricos números apresentados em decorrência da produção de ano de bom inverno eram comparados com os do ano anterior, quando a seca provocara perdas totais nas lavouras de milho, feijão, mandioca, tradicionais culturas de “sequeiro” na região.

Lembrei disso, ao receber a informação de que houve uma alta de 32,1 por cento no faturamento do turismo nos primeiros três meses de 2023. Ou seja, janeiro, fevereiro e março. E o que o Recife teve nesse período? O carnaval, a maior festa popular da cidade, a que atrai mais turistas e a que mais lota hotéis. Em 2022, não houve carnaval de rua e os hotéis ficaram às moscas, por conta das restrições impostas pela pandemia da Covid-19. Então, é natural que, em 2023, com o retorno da grande festa, os números pipocassem. Aí vem a mesma pergunta que eu me fazia, quando me debruçava sobre os relatórios da Sudene, que comparavam o crescimento da economia regional (em anos de bom  inverno) à dos então emergentes “tigres asiáticos”. Um grande “crescimento”, mas é bom lembrar, comparado à produção quase zero do ano anterior.

Secretária de Turismo do Recife, Cacau de Paula comemora números do setor. Mas é bom cautela na análise, não é?

“Somente no mês de fevereiro, este ano, o faturamento das empresas vinculadas com o setor do Turismo (como agências e operadoras; empresas de transporte aéreo e terrestre; hotelaria; alimentação; arte e cultura e outros) contabilizou mais de R$ 84,5 milhões. Durante o Carnaval, juntando todos os setores envolvidos, a cidade movimentou cerca de R$ 2 bilhões”, informa o Observatório de Turismo do Recife (OTREC),  em números divulgados na quarta-feira, e devidamente comemorados pela Prefeitura da Cidade do Recife, inclusive pela titular da pasta do setor, a Secretária Cacau de Paula.

Então, é bom que perguntemos: a Prefeitura fez um bom trabalho para atrair turistas? Ou esse resultado de 2023 é tão favorável por ser comparado a um período de movimentação turística quase zero, devido à necessidade de isolamento social em 2022?  Será que esse crescimento pode ser comparado a aquele mesmo, que se chamava de “boom” agrícola do Nordeste, quando a produção “pipocava” em um ano de bom inverno, após um de seca?  Sei não, viu… Toda vez que vejo números oficiais, explosões, grandes desempenhos de agricultura, de turismo, de comércio, de popularidade de líderes políticos entre outros, só lembro daquele livro “Como mentir com estatística”, de Darrel Huff. Na obra, um clássico do setor, o autor mostrava as grandes mentiras contadas pela mídia, por políticos, por publicitários, com a manipulação da matemática.

A pergunta é simples: se em 2022 tivesse havido carnaval, qual teria sido o percentual de crescimento no faturamento do setor turístico em 2023?

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: PCR / Divulgação e Acervo #OxeRecife

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