A última edição do ano das chamadas Caminhadas Domingueiras aconteceu neste final de semana. Mas não foi no domingo, e sim no sábado. E não ocorreu de dia, como é o habitual, mas à noite. E o percurso foi bem menor do que os normalmente percorridos, já que um dos destinos programados foi cancelado, o Sítio Trindade, onde era impossível uma visita à noite. Dessa vez, o bairro de Casa Amarela ficou de fora. Vai ficar para depois.
Para que os caminhos não ficassem tão monótonos – sem a luz do sol e com as ruas mal iluminadas – o nosso coordenador, Francisco Cunha, improvisou um roteiro movido a histórias de assombrações do “Recife Velho”, para lembrar o título do livro de Gilberto Freyre sobre o assunto. O ponto de encontro foi na Praça de Casa Forte, em frente à Matriz. No interior do templo, a missa. Nos batentes, os caminhantes, ouvindo histórias que falavam de fantasmas do tempo dos holandeses e até do “cão” que, segundo os mais antigos, costumava passar na área, quando a Praça de Casa Forte ainda nem existia.

De lá, pegamos a Estrada Real do Poço, e fomos até a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, onde ouvimos histórias sobre o antigo balneário do Poço da Panela, o papel de José Mariano (que morou na localidade) na luta contra a escravidão. Também foi abordado a folclórica história do Lobisomem do Poço, que costumava atacar as senhoritas no século 18. Uma das vítimas chegou a ter a roupa rasgada pelo lobisomem. Como a mãe era lavadeira, descobriu um pedaço do vestido da filha no bolso de um “barão”, que era um dos seus clientes. Exploramos o bairro de Santana, com velhas histórias do lugar.
Depois, seguimos para a Jaqueira, com paradas na Capela de Nossa Senhora Conceição das Barreiras e também na sede da Academia Pernambucana de Letras. A igrejinha, segundo Francisco Cunha, é “uma joia do barroco brasileiro”, pois foi erguida em 1766, no apogeu daquele estilo no País. Naquela Igreja, casaram o revolucionário Domingos Martins e Maria Teodora, “a noiva da revolução” (de 1817). Dois meses depois, o marido foi fuzilado. Contava a lenda popular, que por volta de meia noite se abriam sozinhas as portas da igreja, e uma virgem saía cavalgando pelo sitio onde hoje é o Parque da Jaqueira. Na APL, novas histórias de assombrações. E o singular fim do Barão Rodrigues Mendes, dono daquele solar, que, ao ficar viúvo, recolheu-se (desgostoso) ao alto de uma torre naquela que era a sua casa. Não desceu mais. Lembrei do que me disse o imortal Cícero Belmar (da APL), quando uma vez lhe contei essa história. “Às vezes, a realidade é mais criativa do que a Literatura”. Talvez seja mesmo.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife