Me perdoem por hoje não estar falando dos problemas da cidade (calçadas, pontes, ruas esburacadas, árvores degoladas). É que ando muito preocupada com a verdadeira farra em que se transformou a liberação de agrotóxicos no Brasil, cujas consequências todo mundo sabe quais são. Tanto para quem manipula esses venenos, quanto para quem consome os alimentos abarrotados de “defensivos”. Sinceramente, todo cuidado é pouco. No Recife, só não compra produto orgânico quem não quer. Pois o que não falta é feira com variada oferta de produtos saudáveis. Às vezes, as cenouras não são tão bonitas, os tomates e pimentões não tão grandes, nem gigantescos os alfaces e acelgas. Mas quando os produtos são lindos, imensos, parecendo artificiais, desconfie.
Pernambuco tem a maior quantidade de feiras de produtos orgânicos do Nordeste, felizmente. São 92, o que não é tanto já que o Estado possui 184 municípios. Tem mais: dessas feiras, 19 são no Sertão, 15 no Agreste e oito na Zona da Mata. As 50 restantes funcionam na Região Metropolitana, sendo a grande maioria no Recife, algumas já bem tradicionais como a de Casa Forte e a das Graças. E o Recife, cada vez mais consciente, é a segunda cidade do Brasil com maior número de feiras de produtos isentos de agrotóxicos. “Os produtos orgânicos são garantia de uma alimentação saudável, livre de aditivos químicos, hormônios ou anabolizantes, garantindo sabor e aroma naturais e maior durabilidade, quando corretamente acondicionados”. E é mesmo. Coloque na geladeira um pé de alface orgânico e um convencional. E veja qual o que ganha, disparado, em durabilidade.
Agora, como em todo o canto tem o bom e o mau profissional. Tem o que diz que o produto é isento, sem ser, como aconteceu há algum tempo, com conhecida feirante em Casa Forte. Então, tem que ficar de olho. Na feira, cheque se a barraca tem – bem visível – um documento de declaração de Organização de Controle Social (OCP) do produtor ou o selo de Certificação Participava. Ou os dois. Esses documentos atestam a origem dos produtos, constantemente fiscalizados pela Adagro (Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária). Minha feira faço nos jardins da Fundação Joaquim Nabuco, sempre às quintas. Até ovos, só compro lá.
São todos os feirantes de uma mesma comunidade e eles vendem suas hortaliças e frutas diretamente ao consumidor, sem necessidade de atravessador. Marcione Maria da Silva (foto) é uma das feirantes. Ela planta e vende o que produz. Só não conseguiu ainda saber qual é o segredo da batata inglesa. O tubérculo não é achado em nenhum dos sítios dos familiares e vizinhos de Marcione, em Chã Grande, Agreste de Pernambuco. “A gente tira (produz) tudo sem veneno, até mesmo raízes, como cenoura, macaxeira, batata doce, mas não conseguiu ainda colher batata inglesa”, lamenta. Quanto aos outros produtos, inclusive o espinafre – que adoooooooooooooooro – todos são nota dez.
Confira a relação de feiras de produtos isentos de agrotóxicos da Região Metropolitana. A relação foi fornecida ao #OxeRecife pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco. E escolha a mais próxima de sua casa:
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife