Exposição na Faculdade de Direito: o Recife através dos cartões postais

O #OxeRecife recomenda. Quem tem interesse pela história, pelo patrimônio arquitetônico e pela evolução urbana da capital, deve dar uma passadinha na exposição A Faculdade de Direito do Recife em Postais. São 41 cartões com fotografias que mostram como era a nossa cidade no início do século passado, quando a FDR era praticamente o prédio de maior destaque do bairro da Boa Vista,  em um período em que os sobrados dominavam a harmoniosa paisagem (foto acima). Inaugurada nesta semana, a mostra segue para visitação até o dia 28 de março. O acesso é gratuito, e a montagem  fica no hall  da entrada da FDR. Há postais que foram impressos no Recife, São Paulo, França e Itália.

Por essa fotografia, percebe-se como havia tanta água na área onde hoje fica o Parque Treze de Maio, em frente à FDR.

Além dos postais, o público pode conferir as informações em detalhes maiores, em imagens digitalizadas que são ofertadas em um monitor ao lado das vitrines onde os cartões foram colocados. Há curiosidades a se observar, no entorno do  prédio, quando se compara as fotografias atuais com as do início do século passado. Uma delas: a água quase parecia chegar bem perto do edifício da FDR,  cuja construção foi concluída em 1911. É que toda aquela região  onde fica hoje também o Parque Treze de Maio – em frente à FDR – era um grande alagado, um terreno pantanoso que se chamava Ilha do Rato. Há quem diga, também, que a área aterrada para implantação do Parque teria sido a Lagoa do Boqueirão. O Parque foi inaugurado na década de 1930, para sediar um congresso eucarístico. Tem hoje alguns espelhos d´água, mas nenhum tão grande como aparece nas fotos do passado.

Os jardins no entorno da FDR eram mais bonitos sem as grades, mas a Tramways  invadiu a área com trilhos.

O fato é que, hoje, não há mais a  lagoa  e o que era mangue, como é comum no Recife, virou terra firme. Também é interessante constatar como mudou a paisagem da cidade em pouco mais de um século.  Na mostra, os postais trazem o prédio da FDR, quando a hoje Praça Adolfo Cirne era repleta de banquinhos, palmeiras e outras árvores.  O terreno não era gradeado, situação mais bonita do que hoje, e que conferia maior amplitude e visibilidade ao prédio, que foi tombado pelo Iphan em 1998. É, portanto, monumento nacional.   Abertos, os amplos jardins terminaram virando motivo de disputa entre a FDR e a Pernambuco Tramways Power Company, que cismou de passar os trilhos dos seus bondes (no sentido Recife – Olinda)  no terreno da Faculdade.  Completa falta de respeito. Mas aconteceu. Isso foi em 1914 e rendeu muita briga entre a diretoria da FDR, Prefeitura e a empresa responsável pelos trens. A pendenga começou ainda na gestão de Adolfo Cirne, que hoje dá nome à praça onde fica a FDR.

Em meio ao crescimento urbano, a FDR praticamente desaparece no meio da selva vertical de concreto.

Os postais pertencem à coleção particular do Juiz Federal e Professor da FDR, Franscisco de Barros e Silva, que os cedeu para a mostra.  Apaixonado pelo Recife, ele não só coleciona postais antigos sobre a FDR e por consequência, do Recife antigo. É que acaba de publicar um livro – Recife: Arruar – dedicado à cidade. São 126 fotografias de sua autoria, mostrando um Recife que as pessoas praticamente não prestam atenção, por conta da velocidade do nosso cotidiano no século 21. No livro, os sobrados, as igrejas, os lambrequins, os detalhes nas fachadas, os janelões, as estátuas, os elementos decorativos que caracterizam diversos estilos da nossa arquitetura ganham ainda mais relevo. A publicação, infelizmente, não está disponível para venda.

Já a interessante mostra reunindo postais que ele juntou ao longo das décadas  é a primeira das atividades presenciais do Projeto Memória Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife,  que haviam sido interrompidas desde o início a pandemia.  “Vamos retomar, também, as visitas guiadas à Faculdade que, como  diz nosso amigo Fernando Batista, foi a mãe da Universidade Federal de Pernambuco”, afirma o Professor Humberto João Carneiro Filho, Coordenador do Memória Acadêmica. Ele lembra, no entanto, que mesmo durante o isolamento social, as atividades do Projeto não pararam. Seus integrantes – professores, corpo técnico, alunos – deram andamento a pesquisas, cursos on line, digitalização de documentos.  Fernando Batista é funcionário da UFPE e integrou o Projeto  como vice coordenador por um ano, em 2017.  Ele é antropólogo,  e reside atualmente em Salvador, onde faz Doutorado em  Cultura e Sociedade, na Universidade Federal da Bahia. Mesmo assim, contribui sempre que pode com os trabalhos do grupo.

O Convento dos Jesuítas, na hoje chamada Praça Dezessete, funcionou como Academia de Direito : 1905

O Projeto tem por finalidade pesquisar e documentar não só a história do Curso de Direito como também preservar o patrimônio e a memória da FDR. Afinal, o curso de Direito em Pernambuco foi criado por decreto imperial, juntamente com o de São Paulo em  1827. Os dois são os primeiros do Brasil.  No nosso estado, as primeiras turmas funcionaram em Olinda. Após passar por outros endereços, no Recife, os alunos começaram a frequentar o então recém construído prédio da FDR em 1912. O postal acima também integra a coleção em exposição na FDR.  E mostra o Convento Jesuíta, na hoje Praça Dezessete, onde funcionava a  “Academia de Direito”, antes do curso se transferir para o imponente prédio, onde funciona até hoje. Não percam a expô!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Reprodução de postais da Coleção de Francisco de Barro se Silva, em exposição na FDR

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