Pensaram que ele era Nathália, quando foi resgatado em 2015 por brigadistas no município de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. Mas à medida que foi crescendo, mudou de nome: virou Nathan. É que o bicho-preguiça que chegou bebê ao Parque Estadual de Dois Irmãos era um macho e não uma fêmea, como se pensou anteriormente. O animal, da espécie Bradypus variegatus (a mais comum em Pernambuco), voltou hoje à natureza onde viverá livremente sem a ajuda dos humanos. Pelo menos é o que esperam biólogos e veterinários do Peti, que acompanharam o desenvolvimento de Nathan e o prepararam para o retorno à vida selvagem.
Ele é um dos animais beneficiados pelo Projeto Preguiça de Garganta Marrom, que funciona como um refúgio de preguiças perdidas, já que com a devastação de matas e o avanço da urbanização, é cada dia mais comum o aparecimento desses animais em bairros, estradas e até rodovias federais. Antes de ser liberado definitivamente, Nathan passou por “teste drive”. Ele foi observado por quatro meses na mata por meio de um colar especial. Em julho, foi resgatado para retirada do equipamento e também para tratamento de saúde, pois tinha uma infecção respiratória. Agora o mamífero vai viver livremente na área de 1.158 hectares de Mata Atlântica preservada do próprio Pedi. Ou seja, com a vida que pediu a Deus. E ele estava tão ansioso para o retorno que até tentou abrir a portinha do compartimento onde se encontrava recolhido até hoje. É preguiça, mas é sabido….

Quando chegou bebê ao Parque, a então Nathália foi acolhida e acompanhada de perto pela bióloga Fernanda Justino, coordenadora do Projeto Preguiça de Garganta Marrom. O nome feminino fora um pedido do grupo que resgatou o bichinho. Mas, depois, soube-se que o animal era macho. E acompanhar Nathan foi uma experiência muito rica, pois há poucos estudos envolvendo a criação e o manejo dessa espécie no Brasil, sendo difícil que um filhote resgatado sem mãe sobreviva sob cuidados humanos. Também é difícil o bebê desgarrado da mãe sobreviver nas matas, porque é ela que ensina ao filhote que vegetais ele deve comer. Afinal, a mata também tem plantas tóxicas que podem ser fatais aos animais. Fernanda comemora não só a vitória da vida desse indivíduo, como também a sua plena readaptação à vida livre. “Nathan era muito novinho e chegou tomar leite na mamadeira. Sabemos o quanto é difícil um filhote nessas condições vingar, ainda mais quando se conta com pouquíssima literatura e pesquisa na área. Hoje com o sucesso que temos obtido, somos referência e muitos pesquisadores do país ligam para trocar experiências conosco”, diz.
Entre 2015 e 2019, os biólogos do parque – além de cuidar e acompanhar o desenvolvimento de Nathan – desenvolveram técnicas para ensiná-lo hábitos naturais da espécie em vida livre, já que o filhote aprende a sobreviver e se defender com a mãe, que serve de exemplo inclusive ensinando-o a escolher a alimentação correta, como disse acima. Muitas vezes, os bichos resgatados não conseguem voltar à natureza, por não desenvolverem tais habilidades. Aliás, pensem em um exemplo de mãe. Nos links abaixo você pode observar curiosidades a respeito desse animal tão simpático e tão generoso. Uma mãe preguiça é capaz de enfrentar um incêndio, para salvar um filhote do fogo.
Pelo menos duas universidades colaboraram com o processo de monitoramento do filhote e seu retorno à Mata Atlântica. É que o colar foi desenvolvido e cedido pelo professor e pesquisador Valdir Luna, doutor em fisiologia pela Universidade Federal de Pernambuco – Ufpe. A ação também contou com o apoio de Maria Adélia Oliveira, professora da Ufrpe. Ao fim do período de acompanhamento, a preguiça foi resgatada para retirar o equipamento e tratar a presença de fungos, o que adiou sua volta definitiva.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação – Semas-PE