“Erê Mukunã”: a beleza da negritude

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Nada como se exaltar a negritude. Que, afinal, é linda. E a exposição Erê Mukunã  – que abre às 15h do sábado (19/10) no Museu da Abolição –  é exatamente isso. A proposta é fazer reflexão sobre identidade e negritude, dando-se visibilidade à beleza negra. Para os que não sabem Erê significa criança  e mukunã é cabelo, no idioma iorubá. A mostra, que pretende combater o racismo, traz fotografias  de crianças negras e quer contribuir para o empoderamento do povo negro a partir da infância. Ao todo, são cem fotografias expostas em plataformas analógicas e digitais e em diferentes suportes, com as quais o público pode “dialogar” seja através de obras como a Barraca Criativa ou a  Caixa Preta. Nesse caso, o público vai interagir usando tablets, com fotos que remetem à valorização da estética afro.

De acordo com os organizadores da Erê Mukunã, a exposição “busca desconstruir uma cultura de negação da beleza negra, que expõe, estigmatiza e desvaloriza crianças e adolescentes a partir de julgamentos feitos pelos seus aspectos físicos como a cor da pele e e textura dos cabelos por não atenderem a um tipo de padrão estético de beleza preestabelecido por parte da sociedade brasileira”. Vou ver essa mostra. Sempre que falo em padrão branco de beleza, imposto pela cultura europeia e pela sociedade escravocrata no Brasil, lembro de uma amiga sertaneja, descendente de índios e africanos.

Ela tem a pele morena e os cabelos negros com fios grossos e fortes. Quando era criança, morando no interior, a festa mais famosa da cidade era a da Padroeira. E o seu sonho de menina, era desfilar na frente do andor, como um dos anjinhos da procissão. Todos os anos, era o mesmo sofrimento. Da janela de casa, via o cortejo passar, sem que realizasse o seu desejo de infância. Motivo: não tinha cachinhos loiros nem olhos azuis, tais quais os dos anjos que aparecem nas obras renacentistas dos pintores europeus e nas imagens dos santos das Igreja Católica. Alguém lembra de já ter visto alguma imagem de anjo negro, em altares e nichos dos templos cristãos? Eu também não.

Informa um dos organizadores do projeto, Félix Oliveira, que a intenção é levá-lo a outros museus e também aos quilombos de  Pernambuco. No sábado, haverá contação de histórias,  declamação de poesias, desfile, e apresentação do balé Afro Raízes, da Comunidade Entra Apulso que apresentará a Dança para Yansã. O Museu da Abolição fica na Rua Benfica, 1150, Madalena. A entrada é gratuita. Não deixe de ir.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação

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