“Ditadura Nunca Mais!” Lembrados 50 anos do assassinato de Padre Henrique

Compartilhe nas redes sociais…

Não é possível negar a história. Diz o presidente que  no Brasil não houve ditadura, não houve tortura, durante o regime de exceção implantado em 1964 e que só terminou em 1985. O seu ex-famigerado Ministro da Educação, Ricardo Vélez, chegou a cogitar a introdução de mudanças nos livros didáticos,  para corrigir  informações alusivas ao Movimento Militar, porque os livros escolares hoje tratam aquele lado obscuro da nossa realidade histórica como ele realmente foi. História é História, e tem mais é que ser lembrada como tudo aconteceu.

No dia em que o Presidente visita o Recife, historiadores, juristas, estudantes e entidades de defesa dos direitos humanos lembram os 50 anos do assassinato do Padre Henrique (1940-1969), que foi trucidado por forças de direita pelo simples fato de ser assessor do então Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara (1909-1999). Defensor dos Direitos Humanos e um dos idealizadores da chamada Teologia da Libertação, o Dom da Paz , como era conhecido, chegou a ser um dos nomes mais visados pelos militares, devido à sua intransigente defesa dos direitos humanos.

Lembro-me que no início da minha vida profissional – primeiro no Jornal do Commercio e depois no Jornal do Brasil – chegava à Redação, e tinha avisos dos censores nos quadros de aviso, em frente às nossas mesas. A frase: “proibido falar no nome de Dom Hélder”. Para driblar a censura, Dom Hélder delegava ao seu Arcebispo Auxiliar, Dom Lamartine Soares, a tarefa de se pronunciar sobre a violação dos direitos humanos no Recife, no Estado e no país. A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese fazia defesa de presos políticos e denunciava sumiços, mortes não esclarecidas, perseguições, torturas, prisões arbitrárias.

Dom Hélder chegou a ter o seu nome cogitado para o Prêmio Nobel da Paz, pela sua luta em defesa dos direitos humanos . Foi perseguido, os lugares que frequentava chegaram a ser metralhados, mas como era muito conhecido no exterior, as forças de repressão tentaram um jeito de intimidá-lo, sequestrando, torturando e matando aquele que era um dos seus principais auxiliares. O crime, atribuído ao Comando de Caça aos Comunistas, foi notícia em todo o mundo. E foi uma forma de mandar um “recado” macabro ao Dom.

O Padre Antônio Henrique Neto, um dos mártires da chamada “revolução” será lembrado hoje em vários locais. A partir das 19h, no Auditório Dom Hélder Câmara, da Universidade Católica de Pernambuco, haverá mesa redonda, com o tema Missão, Martírio e Verdade. E às 18h, na Igreja das Fronteiras, heverá vigília em memória dos 50 anos do “Martírio de Padre Henrique”. Haverá, no local, apresentação compacta da peça de teatro O Pro(Fé)ta: o Bispo do Povo. Pela manhã, na Sé de Olinda, o Arcebispo Dom Fernando Saburido celebrou missa, em memória do sacerdote, uma das mais  vítimas da ditadura. E o homem ainda diz que nunca houve ditadura… História é história, gente. Não há como se negar. Ainda mais com fatos tão recentes, vivenciados por todos nós, amigos, parentes. Se omitem dos livros, nós estaremos aí, para recontar. Democracia para todos nós!

Leia também:
Filme revive fatos da ditadura de 1964
Livro oportuno sobre a ditadura (que o Presidente eleito diz que nunca existiu)
Lição de história sobre ditadura no Olha! Recife
Ministério Público recomenda que não se comemore 1964 nos quartéis do Exército
A história de 1968 pela fotografia
Cantadores: Bolsonaro é a marca do passado
“Nazista bom é nazista morto” chama atenção em muro do Exército

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife 

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.