Dinheiro público vira areia: Upinha inacabada é destruída para fazer outra

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Deus meu, é muito dinheiro jogado no lixo. Os exemplos – todos sabem – são muitos. Porém o mais recente fica no Poço da Panela, onde vinha sendo construída uma UPA-Dia (Upinha) pela Prefeitura, na qual já haviam sido investidos cerca de R$ 230 mil. Com alicerces implantados e paredes já erguidas, a edificação foi posta abaixo na terça-feira (29/12).  Duas máquinas se encarregaram de colocar tudo no chão.  A placa anunciando a nova obra – “Prefeitura trabalhando” – indica “execução da complementação de obras e serviços de construção  da Upinha localizada no Poço da Panela, no município do Recife”. Complementação nada… Tudo que estava feito virou pó.

De acordo com a placa oficial,  o custo total do novo serviço chega a R$ 1.214.408. E o prazo de entrega é de sete meses. Embora a destruição das estruturas antigas tenham ocorrido em 29 de dezembro, há indicação de que as obras começaram em “03/11/2020” e que terminarão em “03/06/2021”. Ou seja, foram retomadas no calor do clima eleitoral. Na campanha pela sucessão municipal, a obra parada alimentou discurso da oposição. A paralisação dos trabalhos chegou a ser denunciada pela então candidata do PT à Prefeitura do Recife, Marília Arraes. Poucos dias depois, foram colocados tapumes que impediam a visibilidade do trabalho inconcluso.

Upinha do Poço começou a ser construída mas foi totalmente destruída nessa terça-feira (foto da obra inicial)

Na verdade, um posto de saúde da família na localidade havia sido uma decisão do então Prefeito João da Costa (PT), sugerida em reunião do Orçamento Participativo (prática em que  as comunidades decidem onde aplicar os recursos públicos). Mas a obra só teve início da gestão Geraldo Júlio (PSB), quando as famílias humildes da região passaram a ser atendidas em um contêiner, porque a casa que abrigava o PSF estava como telhado ameaçado de ruir. Tudo bem. A comunidade precisava mesmo de uma UPA. O problema foi o local escolhido, à margem do Rio Capibaribe. Segundo o Ministério Público de Pernambuco a área é de preservação permanente e por esse motivo não deve ter construção.

Desde então, houve guerra de liminares, decisões judiciais e constatação de irregularidades na edificação. A retomada das obras ocorre em surdina, não foi anunciada. “Passei pela obra da Upinha que foi retomada. Derrubaram tudo que havia sido construído. Que prejuízo! Tudo na nossa conta de pagador de imposto”, reclama a arquiteta, urbanista e artista plástica Bárbara Kreuzig. “Provavelmente um novo projeto, atendendo às disposições do Ministério Público,que eram o respeito ao afastamento do rio”. Para outro morador, Fábio Carvalho, a área que será ocupada pela Upinha “poderia ser um lindo parque”. E acrescenta: “Transporte fluvial, compostagem, horta urbana, reflorestamento, jardim contemplação”. Integrante do Coletivo Jardim Secreto do Poço, ele ironiza: “Eita vontade de trabalhar! Cinco anos parado e derrubam no último dia útil do ano”. Há coisas na gestão pública que fica difícil da população entender…

Olhem só as máquinas transformando em pó a edificação construída com dinheiro público:

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Texto e vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Marília Cavalcanti Farias (Cortesia)

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