Hoje, Dia do Trabalhador, o #OxeRecife faz uma homenagem a uma multidão anônima, que não tem sábado, domingo, nem feriado. E para quem todo dia é de trabalho. São homens e mulheres que fazem da areia da praia o seu meio de vida. E nem me refiro aos barraqueiros, que têm pontos fixos, eles também incansáveis, na labuta diária. Mas me refiro, sim, aqueles que chegam a andar quilômetros e mais quilômetros para garantir o ganha pão. São dezenas de idas e vindas, entre o Pina e o Terminal de Boa Viagem. E que terminam por produzir uma saudável mistura de sons e cores. Sons que vão da sineta (do sorvete) ao reco-reco (do raspa-raspa). E cores que vão dos silenciosos papagaios (pipas) aos cata-ventos artesanais.
Vejam a dimensão da massa de ambulantes, que me dei ao trabalho de contar. Entre 10h30m e 10h33 do sábado, haviam passado em frente ao meu guarda-sol, próximo ao Edifício Holiday, nada menos de 15 vendedores, com as mais diversas mercadorias. Achei que tinha me enganado. Que eram demais. Fiz nova contagem, dessa vez entre 10h33 e 10h36. Novos três minutos. Vejam só a quantidade computada de vendedores e suas respectivas mercadorias: caldinho (3), sorvete (3), amendoim e ovo de codorna (3), queijo assado (2), espeto (2), óculos (2), chapéus (2), camarão (2), raspa-raspa (um), água oxigenada (um), lagosta (um), bronzeador (um), pipas (um). Ou seja, 24 vendedores, seis por minuto. É a chamada economia invisível, mexendo-se feito um formigueiro.
Depois, fiz nova contagem, entre 11h e 11h10. Ou seja, dez minutos. Adivinhem só, quantos passaram, nesse curto espaço de tempo. Pois pasmem. Desfilaram na minha frente, nada menos de 52 vendedores. Dessa vez, os campeões foram os vendedores de ostras cruas, nada menos de onze que passaram. O amendoim e os ovos de codornas (geralmente estão sempre juntos em cabos de vassoura, pendurados em saquinhos) ficaram em segundo lugar, com dez. O caldinho é o terceiro, com sete. Mas há mercadorias que não tinham aparecido nas duas primeiras contagens: cremosinho, refrigerante em lata, cachorro quente, pulseiras artesanais, telas pintadas (de gosto duvidoso) e baldes de praia para crianças. E até luminárias feitas com palito de picolé.
Agora, quem incomoda, mesmo é o som alto do carrinho de CD pirata. O vendedor passa com microfone, o som absurdo, parecendo um trio elétrico. Ele já incursionou por vários gêneros: brega pornô, música evangélica e agora está na fase MPB. Menos mal. Anuncia seus produtos com um microfone. “Novidade, hoje, CD de Simone Rodrigues, mais conhecida como Simone Cobra. Ela canta em barzinho, voz e violão e é de Mato Grosso do Sul”. E acrescenta: Tou avisando aos clientes, hoje é só R$ 5”. E aumenta o volume: “Como vai você, que já modificou a minha vida, razão da minha paz já esquecida”. Seis pessoas compram a “novidade”. Ao procurar outro lugar, o pirata se despede. “Desculpe se causei alguma forma de desconforto. É o meu trabalho”. Então…. tá.
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife