Dia da Água: Nossos rios poluídos

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Hoje é Dia da Água. E por que não pensar nos recursos hídricos de todo o estado, cada dia mais sufocados?  Aqui no Recife, a gente vê a morte em  processo acelerado de rios como o Capibaribe e o Beberibe, cujos leitos estão se transformando em fossas e lixões. Os cerca de cem canais que cortam a cidade – e que já foram riachos um dia – não passam de esgotos a céu aberto, por conta de oferta deficiente do serviço de saneamento, que atende a cerca de 40 por cento dos nossos domicílios. Isso, em um cálculo generoso, porque para quem entende desse assunto, nem 30 por cento das casas do Recife descartam corretamente seus dejetos.

É, realmente, uma situação muito triste, decorrente não só da falta de educação da população mas também da irresponsabilidade de nossas autoridades ao longo das décadas. Para os que não sabem, o Recife já foi uma cidade saneada no século passado. Vocês acreditam? Mas como tubulação enterrada não dá voto, ninguém se preocupou em preservar essa tradição exemplar implantada pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito (1864-1929), e que deixou nossa cidade em situação invejável nos tempos dos nossos avós.  E a luz no fim do túnel está cada dia mais distante. A parceria público privada entre a Compesa e a BRK, que deveria deixar a Região Metropolitana com 90 por cento saneada até 2025, adiou o cronograma para 2037. Com a nova crise que se prenuncia, com a economia paralisada pelo coronavirus, ninguém sabe ainda como será. No Recife, é fácil observar-se despejo de esgoto não só em áreas carentes, como também  em bairros nobres. Boa Viagem, por exemplo. Problema que se observa até mesmo na vizinhança do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, como vocês podem conferir nesse vídeo de Guilherme de Castro, em meio ao canto das garças que colonizaram naquela área.

O fato é que nossos rios estão morrendo, por excesso de esgoto e de lixo. No Grande Recife, na Zona da Mata, no Agreste, no Sertão. Nesta semana, recebi uma foto preocupante do Rio Ipojuca, sempre citado entre os cinco mais poluídos do Brasil. Ali, na Região Agreste, a situação de esgotamento sanitário e de descarte irregular de lixo é tão grave ou talvez até pior do que no Recife, onde a água se renova com o movimento e a influência das marés. A foto enviada pelo engenheiro ambientalista Ulrich Scheider, que é alemão, mostra o Ipojuca coberto por uma espessa camada branca de espuma, indicação de que certos produtos estão sendo ali despejados sem o tratamento devido.  Ele contou ao #OxeRecife que o fenômeno foi observado no município de Bezerros, a 107 quilômetros do Recife. Morando no Sertão – onde participa da ONG  Patrulha Ambiental – ele disse que observa situação semelhante no Rio São Pedro, em Araripina, onde ele reside. Araripina fica na Região do Araripe, a 692 quilômetros do Recife.

Para o Diretor de Controle de Fontes Poluidoras da Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh), Eduardo Elvino,  a espuma farta resulta das chuvas registradas naquela região. “O leito do rio estava seco, com matéria orgânica e com resíduos de detergente”, relata. “Então, quando o volume de água aumenta, por conta das chuvas, gera essa espuma, que reflete o impacto nos nossos mananciais”, explica. “Como a região não tem sistemas de tratamento de efluentes domésticos, quando a água entra em contato com os produtos químicos e detergentes gera essa espuma”, acrescenta. A citada ausência de “sistemas de tratamento de efluentes domésticos” chega a soar estranho, em pleno século 21. Mas Ulrich diz que lá em Araripina, a espuma aparece de todo jeito. “Com o rio seco ou com chuva, a paisagem é quase sempre a mesma”, acusa. E o saneamento do Agreste e no Sertão, quando é que melhora? Só bola de cristal para responder.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Ulrich Scheider / Patrulha Ambiental / Cortesia
Vídeo: Guilherme de Castro / Cortesia

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