O Recife possui 15 jardins históricos, cujos projetos foram assinados por Burle Marx (1909-1994), um dos paisagistas mais famosos do mundo. Assim são considerados, por serem “monumentos vivos devido à riqueza de composição”. Deveriam, portanto, ter direito a uma manutenção impecável. Mas não é o que acontece. Passem em alguns desses “jardins históricos”. E observem a situação precária de grande parte deles. Tirando raras exceções – como a Praça da República (foto abaixo), os jardins do Palácio do Campo das Princesas e a Praça de Casa Forte (que ganhou “mães adotivas” recentemente) – a situação das demais é muito, mas muito precária.
Praça Maciel Pinheiro, Praça do Arsenal, Pinto Damazo, Farias Neves, Dezessete. Estão, quase todas, entregues às baratas. Em algumas, o gramado até sumiu. Em outras, há mendigos morando, tralhas e lixo espalhados pelo chão. É o caso da Dezessete, no bairro de Santo Antônio. “Gente, hoje de manhã passei na Praça Dezessete e fiquei chocada”, desabafa a leitora do #OxeRecife, Carmem Lúcia de Freitas Rodrigues.”Pois está totalmente abandonada”, reclama. Nas minhas caminhadas, tenho presenciado situação idêntica, por exemplo, no que se refere à Maciel Pinheiro, na Boa Vista. No Parque da Jaqueira, em frente à igrejinha, nem grama há mais. Algumas, como é o caso da Faria Neves, em Dois Irmãos, são adotadas, mas nem por isso tão cuidadas como deveriam. Às segundas-feiras, o lixo lá dá na altura da canela. A Praça de Casa Forte felizmente está melhorando, pois ganhou mais “pais adotivos” para seus jardins laterais (o do meio, já tinha “pai” há tempo).
Na segunda-feira, o Vice-Prefeito gente boa Luciano Siqueira (PC do B) anunciou que os 15 jardins históricos do Recife, cujos projetos são assinados por Burle Marx, agora vão dispor de um Comitê Gestor. A representação será formada por servidores da Prefeitura e da sociedade civil. Juntos, eles devem definir usos e garantir a preservação desse patrimônio ambiental e arquitetônico da cidade. A formalização do Comitê aconteceu no ato de abertura da Semana Burle Marx, dedicada ao renomado paisagista, que conta com uma série de atividades até o dia 15 de agosto. A Semana Burle Marx, aliás, foi instituída por força da lei 17.571/ 2009, apresentada naquele ano pelo próprio Siqueira, quando era vereador do Recife. E encontra-se em sua décima edição. “A formalização do Comitê Burle Marx consolida uma parceria importante entre a gestão municipal e diversas instituições da sociedade civil”, afirma o Vice-Prefeito.
“Esse é um ato de grande significado, pois concretiza – de uma maneira formal – um esforço que há 10 anos é feito entre a sociedade civil e o poder público municipal, no sentido de valorizar a obra de Burle Marx e sensibilizar a população do Recife e todos que aqui circulam sobre a importância dela, do ponto de vista arquitetônico, paisagístico e cultural”, diz. Principal responsável pelo movimento que tombou praças e as transformou em jardins históricos, a Coordenadora do Laboratório da Paisagem da UFPE, Ana Rita Sá Carneiro, afirma que o comitê será uma ferramenta para a conservação da própria história da cidade e dos recifenses. “Burle Marx deixou um legado muito valioso para nós, não só sobre construção de jardins. Estamos cultivando e pensando sobre nós mesmos, só que o jardim não existe sozinho, ele existe através do tratamento feito pelas pessoas. Então o comitê está sendo organizado para defender essa causa”.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife