Desolação no arraial do Sítio Trindade

Compartilhe nas redes sociais…

Durante a minha adolescência, havia um local durante os festejos juninos e natalinos, que eu não conseguia deixar de ir. Era o Sítio Trindade, naquela época chamado pelos moradores de Casa Amarela de Sítio da Trindade. No São João, tinha festa todas as noites entre os dias 12 e 29 de junho. No final do ano, lembro que a comemoração começavam bem antes do Natal e que ia até o dia 31. Foi ali que vi pastoris, travei os primeiros contatos com um reisado e vi muitos bois. Também conheci ali o autêntico forró pernambucano. E era uma festa assim, que esperava encontrar no último sábado, durante a Procissão das Bandeiras. Mas tudo que eu vi , no último sábado, foi muita desolação.

Apesar de estarmos em um final de semana, o Sítio Trindade estava quase às escuras. Não havia uma barraca funcionando, nem mesmo para se comprar uma água mineral. Atração, nenhuma. E os devotos e brincantes do cortejo chegaram com seus cantos e bandeiras em um Sítio vazio, onde só 50 pessoas aguardava os cordões. Foi muito triste. Estava com uma amiga, também de Casa Amarela, que impressionou-se com o “deserto”. Também encontrei pelo menos uma dezena de pessoas reclamando da ausência de programação, habituadas que eram a brincar o São João todo final de semana naquele local histórico e o mais tradicional arraial do Recife.

Desolação foi a marca do Sítio Trindade, no último final de semana, com o arraial  pronto mas sem funcionar. Infelizmente.

“Eu nasci em Casa Amarela e é a primeira vez que encontro o Sítio Trindade sem nenhuma atração para a gente ver nesse período”, reclamava Maria de Fátima da Silva, que estava no local em busca de informações sobre a programação de shows. “Meu Deus, o que é isso? É incrível o que está acontecendo, eu nem acredito no que estou vendo”, reclamava. A dona de casa tem um carinho especial com o Sítio, cujas festas frequenta desde os tempos de menina. “Passei para pegar um papel com a programação, mas nem isso encontrei para levar”, informava.

Fátima disse que tem, guardadas em casa, as programações de festas juninas anteriores, como “lembranças” daquela que é a festa do ano que mais gosta de comemorar. “Até livrinhos com as letras das músicas juninas eu tenho em casa”, lembrava. “Mas agora, não tem nem festa”.  A Secretaria de Cultura do Recife informou que realmente não conseguiu fechar a programação junina do Sítio como gostaria, por falta de recursos. Mas lembrou que há muitos outros arraiais espalhados no Recife e que haverá animação nos próximos finais de semana. Não é de hoje que o Sítio Trindade é esquecido pela atual gestão. No final do ano, o local ficou às moscas e uma programação, mesmo assim muito tímida, foi transferida para o Bairro do Recife. No domingo passei lá no Sítio, onde constatei a mesma desolação do sábado, 16. Tudo fechado.

Leia também:
Procissão linda e pouco público
O BRT da Festa de São João
Olha! Recife no BRT Cais do Sertão
Caminhada do Forró é hoje
Antoninas sem cachês milionários 

Texto e fotos: Letícia Lins/ #OxeRecife

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.