Descalabro da poluição sonora no Recife mobiliza Ministério Público de Pernambuco

Compartilhe nas redes sociais…

Poluição sonora tem jeito no Recife? Sim ou não? Quem é vizinho de bar, restaurante, casa noturna, casa de festa e  até alguns templos religiosos sabe o quanto é difícil a luta para fazer valer a lei do silêncio. E quando você está dormindo, de madrugada, em bairros como Boa Viagem, e passa uma horda de motoqueiros sem noção com o escape aberto? E não é preciso pensar no desconforto só à noite não. Basta dar uma circulada por um bairro popular – como Casa Amarela ou Afogados – para se sentir a bagaceira. Cada loja anuncia o seu produto com um serviço de som na calçada, uma vizinha à outra, fazendo o maior barulho do mundo. Também passam carros e bicicletas, em alo volume, anunciando produtos. E quando você quer descansar, e não consegue devido ao barulho com decibéis de trio elétrico em algum imóvel da sua rua? Como os órgãos que deveriam fazer o controle são omissos, sobra para o Ministério Público, onde a maior demanda nas promotorias do Meio Ambiente é exatamente contra o excesso de barulho. E isso é uma prova de que Prefeitura e Governo estadual não estão exercendo controle para reduzir o problema.

Da parte do poder municipal, é obrigação da Secretaria de Meio Ambiente coibir o excesso de som. Da parte do Estado, os órgãos policiais – incluindo o 190 – deveriam estar preparados para trabalhar essa questão. Até porque se sabe que o excesso de som já tem provocado homicídios. Dia desses, entrei em uma sapataria, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. A moça que me atendeu me informou que se arrependimento matasse, ela “estaria no cemitério”. A frase faz sentido. A vendedora trabalhava em uma sapataria da mesma empresa, no Shopping Recife, que fica em Boa Viagem, Zona Sul. Por conta da distância, pediu transferência para a loja do bairro onde reside. Mas me confidenciou que não tinha dimensão da poluição sonora na Rua Padre Lemos. “Eu passo o dia com dor de cabeça, durmo mal e fico com estresse, devido ao excesso de barulho. Já tenho tido até insônia e pesadelo”, contou porém pedindo para manter o anonimato. Infelizmente os órgãos públicos estão aquém das necessidades da população. Eu por exemplo, já apelei várias vezes para o 190, assim como meus vizinhos. Mas foi mesmo que nada, apesar da poluição sonora deuma certa casa de festas passar das 23h e ir até o dia seguinte. Felizmente, a pressão dos moradores foi tão grande contra a o estabelecimento poluidor e irregular, que os donos decidiram se mudar.

No centro comercial de Casa Amarela, trabalhadores se queixam do excesso de poluição sonora. Outros já se habituaram

Diante do descalabro, quando o assunto é poluição sonora, o Ministério Público – que passou longo tempo sem atacar o problema – volta a se mobilizar. As Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da Capital emitiram hoje convite para que a população recifense a participe, de audiência pública para debater as políticas públicas de controle da poluição sonora e licenciamento para o uso de aparelhos sonoros por estabelecimentos comerciais.

A audiência pública convocada pelo Ministério Público de Pernambuco contra a poluição sonora será realizada a partir das 14h do dia 19 de dezembro no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Pernambuco (OAB-PE), que fica na Rua do Imperador Dom Pedro II, 346, Santo Antônio, no Centro do Recife.Conforme o edital de convocação, publicado no Diário Oficial Eletrônico do MPPE da segunda-feira (4), os interessados em se manifestar na audiência pública devem se cadastrar no local, até as 13h30.

De acordo com os Promotores de Justiça Sérgio Souto e Ivo Pereira de Lima, titulares da 12ª e 13ª Promotorias de Defesa da Cidadania da Capital, a audiência pública terá como finalidade coletar informações e sugestões do público, a fim de enriquecer a atuação ministerial no tema.  É  preciso que o ministério público se movimente mesmo, pois do jeito que está, não dá para continuar. Em todos os bairros, há reclamações contra o excesso de barulho.

Leia também
Descontrole: Poluição sonora é a maior demanda das promotorias do Meio Ambiente do Recife
Pátio da Feira de Casa Amarela passa por mudanças, porém poluição sonora incomoda
Viva Guararapes: Poluição sonora espalha decibéis além da conta
Poço da Panela pede socorro contra os paredões e a poluição sonora
Prefeitura ameaça interditar bares na Avenida Manoel Borba por poluição sonora
Boa Vista come o pão que o diabo amassou: poluição sonora e calçadas ruins
Poluição sonora responde por 52 por cento das denúncias ambientais
O inferno da poluição sonora
Poluição sonora: “O respeito ao silêncio alheio é um ato de civilidade”
Poluição sonora crescente: Omissão das autoridades deixa cidadão desprotegido
Poluição sonora incomoda humanos e bichos em Aldeia: audiência pública
Poluição sonora incomoda moradores do Centro e da Zona Norte
Foi preciso uma  pandemia para começar o controle da poluição sonora nas praias
Praia, sargaço e poluição sonora
Lei seca e o barulho infernal das motos
Réveillon terá show pirotécnico sem barulho

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.