Já inventaram muita coisa sobre o baobá, árvore mágica e tida como o maior colosso vegetal do mundo, podendo viver mais de 3 mil anos. Há algum tempo, as redes sociais foram tomadas pela foto da flor da árvore, com a falsa informação que o seu desabrochar só ocorreria a cada 50 anos quando, na verdade, a floração acontece anualmente. Isso, no entanto, não nos impede de celebrar esse espetáculo da natureza.
Há alguns dias, estávamos passeando por Olinda, voltando da praia do Janga, no Litoral Norte. Conosco, meu amigo Fernando Batista, semeador de baobás. Ele está residindo na Bahia, mas quando vem a Pernambuco não perde oportunidade de visitar, contemplar e colher frutos e sementes da árvore, para propagar as mudas por esse Brasil. E já foram tantas, que ele perdeu as contas.
Ao passarmos em frente ao Fortim do Queijo, paramos para contemplar o baobá, que fica entre o mar e a Rua do Sol. Como vocês sabem, a árvore não é nativa (veio da África). Mas é como se fosse, tão grande é o afeto que os pernambucanos devotam à espécie. E ele estava cheio de flores, frutos e botões prontos para abrir. Uma amiga que vinha conosco, Conceição Campos, chamou a atenção de Fernando, pois vira uma flor em botão, sendo cercada por abelhas. Autor de trabalhos acadêmicos sobre o baobá e conhecedor da árvore como ninguém, Fernando avisou: “Do jeito que ela está, vai abrir às 17h30 de hoje”. Não deu outra. Fomos matar o tempo em uma charmosa cafeteria, até que chegasse a hora do desabrochar da flor.
Saímos bem apressados, para não perdermos o “filme”. E, realmente, aconteceu. Lentamente a flor do baobá foi se abrindo para o mundo. Tivemos o maior cuidado para que não houvesse nenhum atrito com os nossos celulares, para não perturbar aquele espetáculo sagrado até então inédito para nós. Eis que chega Aglaia Costa, violinista e rabequeira, e se integra ao grupo. Ela posicionou-se sob a árvore. E, enquanto a flor abria, nossa amiga soltava o som da rabeca para aquele presente vegetal. Foi uma bela cerimônia, que teve o dom de nos aproximar da natureza, e aumentar o gostoso clima de confraternização entre amigos. E viva o baobá, que tem o dom de agregar as pessoas e fomentar as nossas amizades.
No sábado (23/11), Fernando Batista ( o semeador de baobás) está no Projeto Nos Pés do Baobá, do Sesc, que acontece na Praça do Campo Santo, em Santo Amaro, a partir das 14h. O projeto integra a programação do Sesc para o Mês da Consciência Negra. Fernando, Inaldete Pinheiro (fundadora do Movimento Negro de Pernambuco) e Luís Paulo Pinto (historiador, Salvador) vão participar de discussão que tem como tema O Baobá como ícone no resgate, afirmação e reafirmação da identidade cultural, histórica e religiosa do povo negro. O evento é aberto ao público. Gratuito, portanto. Depois, tem apresentação cultural com Yabás de Xambá (16h30m), Balé afro Raízes Dança para Iansã. E, no final, um cortejo até o pé do Baobá. E viva à árvore mágica e ancestral.
Veja, no vídeo, o despertar musical da bela flor do Baobá, lindo!
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Fernando Batista
Vídeo: Fernando Batista / Cortesia