Viva às baleias. Um cordão humano foi formado nas areias do Arquipélago de Fernando de Noronha, em defesa dos gigantes do mar: as baleias.Com seus corpos, homens e mulheres desenharam a cauda de uma baleia. Esse foi o meio que turistas e moradores da ilha arranjaram para reafirmar a moratória à caça dos cetáceos, cuja pesca é proibida há 32 anos.
O ato foi organizado pelo Projeto Golfinho Rotador e realizou-se na praia de Conceição, uma das mais frequentadas da Ilha. Os ambientalistas querem a criação de um santuário de baleias no Atlântico Sul, mas a proposta foi rejeitada durante recente reunião da Comissão Internacional Baleeira, que ocorreu em Florianópolis. Em compensação, países que pretendiam retomar a caça comercial dos cetáceos, como é o caso do Japão, foram derrotados. Ainda bem.
O ato em Noronha foi organizado pelo Projeto Golfinho Rotador. Após a manifestação, um grupo partiu para uma “remada”, iniciativa mundial da ONG australiana Surfers for Cetaceans, capitaneada na ilha pelo Projeto. “Com a remada, consolidamos nosso compromisso, respeito e admiração pelas baleias e golfinhos, ” afirmou Rafael Pinheiro, do Golfinho Rotador. A celebração aos cetáceos também assinalou as comemorações dos 30 anos de criação do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e os 28 anos de criação do Projeto Golfinho Rotador. Há algumas décadas, estive acompanhando uma pesca de baleia, que era realizada por uma empresa japonesa, no Litoral da Paraíba. Lembro-me que em apenas uma noite, nove gigantes foram exterminadas.
As baleias vinham do mar, sangrando, rebocadas por um navio. Algumas tinham rasgões provocados por tubarões, que atacavam enquanto elas, já inertes, eram conduzidas para o cais. Expostas em um galpão imenso, eram retalhadas em minutos, e nada da baleia era perdido. Até os ossos eram moídos e o pó utilizado como adubo em plantios de pimenta no Norte do Brasil. Fiquei indignada com o que vi. Como se não bastasse o massacre dos animais, este ainda era vendido ao público como um grande espetáculo turístico. O público pagava para ver, da arquibancada, a baleia sendo cortada em pedaços. Voltei ao Recife indignada, com o espetáculo sanguinário. E expus minha revolta em reportagem publicada no Jornal do Brasil, onde trabalhava à época. A repercussão foi grande. E pouco depois, a caça seria proibida no Brasil. A empresa teria passado a pescar tubarões.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Fotos: Divulgação. São de: Chico Bala (cordão humano na areia) e Patrícia Lindoso (remada). Patrícia integra o voluntariado do ICMBio