Não é a primeira vez que essa tal de Michele Collins choca grande parte da população do Recife, principalmente feministas, adeptos de credos que não sejam o seu e até mesmo as pessoas negras ou seguidoras de religiões de origem afro. Agora decidiu soltar seu verbo preconceituoso contra Yemanjá. Logo contra Iemanjá. Mas a resposta foi à altura. O Coletivo de Juristas Negras de Pernambuco divulgou uma nota de repúdio, no qual acusa a vereadora de racismo e intolerância religiosa.
“Noite de intercessão no Recife, orando por Pernambuco e pelo Brasil, na Orla de Boa Viagem, chamando e quebrando toda maldição de Yemanjá lançada contra nossa terra em nome de Jesus. O Brasil é do Senhor Jesus. Quem concorda e crê diz amém”. Foi assim que ela se referiu ao orixá que, no sincretimo religioso, é a Nossa Senhora da Conceição para os católicos. O Brasil é de Jesus, mas o é, também de outras religiões, pois vivemos em um estado laico onde, pelo menos na lei, se permite a prática de todos os credos.
Portanto, atacar Yemanjá, como fez a vereadora, é uma prova de intolerância religiosa. Atacar Yemanjá, para os adeptos de religiões de matriz africana, é uma agressão tão grande quanto seria para os católicos, ouvir absurdos do mesmo teor em relação a Nossa Senhora da Conceição. Mas para as juristas negras, a atitude de Michele é mais do que isso: é preconceito racial. Na nota, o Coletivo lembra que Iemanjá é uma “orixá consagrada como grande mãe dos adeptos de segmento religioso, e cuja celebração está intrinsecamente ligada à constituição da identidade do povo brasileiro”. E acrescentam: “Desse modo, a publicação da vereadora se mostra dolorosamente violenta para com os adeptos das religiões de matriz africana”.
Para elas, a atitude da evangélica, constitui, também, um crime de racismo. Afirmam, ainda, que a postura da vereadora “assume caráter violador de direitos humanos, incita o ódio contra as religiões de matriz africana, sendo este um elemento primordial na disseminação do racismo religioso”. É muito triste, em pleno século 21 ainda ouvir coisas como as proferidas por Dona Michele, aquela mesma que já pregou subserviência das mulheres aos maridos, como se vivêssemos ainda nos tempos do Brasil Colônia. Nenhum adepto de Yemanjá invadiu a Igreja de Dona Michele para falar mal de Jesus. Portanto, ela tem que ficar no lugar dela, e deixar Yemanjá nos corações de quem cultua o orixá. Como perguntar não ofende, é só indagar: “Dona Michele, qual foi o mal que lhe fez Yemanjá?”
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Texto e foto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Duas esplêndidas (a jornalista e a rainha do mar).
Obrigada, Fábio. Gostaria de ter a mesma magia de Yemanjá.