Coitado desse lourinho aí da foto. Estava em mãos de traficantes. E teria o amargo cativeiro como destino certo. Antigamente quase todo mundo tinha um em casa. “Dê cá o pé, meu louro”, era a senha para se aproximar do animal, que é muito divertido. Aprende a dizer coisas boas, palavrões, a pedir comida e até a “dedurar” o dono.
Não sei se vocês lembram, mas em 2016, um marido que traía a esposa com a empregada foi denunciado pelo papagaio. Aconteceu na província de Hawalli, no Kuwait. Em diálogo com a amante que o pressionava por uma definição, enquanto a mulher viajava, o homem dizia que “vou me separar, para casar com você”. Quando a esposa chegou, o papagaio, malandro que só ele, disse a frase várias vezes. E a mulher traída entendeu tudo. A notícia, por ser tão curiosa, ganhou os jornais do mundo.
Quando eu era criança, a minha mãe tinha um louro. Toda manhã, ele gritava: “Mariinha, tou com fome”. Minha avó materna tinha outro, que veio todo mal educado do sertão. Quando começava a escurecer, ele enchia os pulmões, abria o bico e gritava os piores palavrões que você pode imaginar. Minha avó morria de vergonha dos vizinhos. Lembro que ele dizia assim. “Está chegando a hora da vergonha”, porque de puta a corno, o papagaio chamava todo mundo. Uma vez a ave agarrou meu dedo com o bico e quase que não soltava mais. Bem feito. Quem mandou mexer com o bichinho? Mas eu era criança demais, e não tinha noção de nada naquela época, achava que a ave era um brinquedo tão divertido quanto as bonecas de pano da feira. No século passado, era comum ter um papagaio (as pessoas chamavam de louro) em casa.
Agora é crime ter em papagaio em casa, que é animal silvestre. Mas tem gente que insiste. E quem o faz, está alimentando o tráfico de animais, que rendem bilhões por ano em todo o mundo. Esse bichinho lindo da foto, chamado de papagaio verdadeiro, ocorre muito na nossa região. O lourinho veio de São Paulo, onde foi resgatado em operações da Polícia Militar naquele estado. Foi “repatriado” na terça-feira para o Recife e está atualmente no Centro de Triagem de Animais Silvestres, o Cetas Tangara, da Cprh. O lourinho veio de avião, com tratamento vip. Com ele, mais 52 outras aves típicas do Nordeste chegaram ao Aeroporto dos Guararapes na última terça-feira. Já estão no Cetas, onde são preparados para reintrodução à natureza. Liberdade, eis tudo que precisam.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / Cprh