Para muita gente, a cana só serve para produção de açúcar e álcool. Para um grupo de cientistas, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, o vegetal, tão comum na Zona da Mata de Pernambuco, tem outra utilidade. É que eles acabam de provar a eficácia de um curativo pós-cirúrgico, produzido a partir da planta e o resultado do estudo já foi até publicado em revista científica internacional.
Na verdade, trata-se de um filme de celulose bacteriana, desenvolvida a partir da fermentação da cana-de-açúcar. O biopolímero verde, biocompatível e biodegradável foi testado em 55 pacientes, como curativo de ferida pós-operatória de tratamento de varizes dos membros inferiores. Os pacientes pertencem à Área Assistencial de Angiologia e Cirurgia Vascular do HC, unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra 45 hospitais universitários federais no país.
“O estudo apresentou um curativo biológico (sustentável) para ser usado nas feridas pós-operatórias do tratamento das varizes das pernas. Tem um menor custo financeiro e foi tão eficaz na cicatrização das feridas quanto o curativo tradicional, que é de material sintético (a fita microporosa), mas por ser biológico causou menos coceira. A retirada desse curativo também se mostrou mais fácil e com menos dor”.
A explicação acima é do chefe da Área Assistencial de Cirurgia Vascular do HC e professor do CCM-UFPE, Esdras Marques, orientador do estudo “Application of Bacterial Cellulose Film as a Wound Dressing in Varicose Vein Surgery: A Randomized Clinical Trial” (“Aplicação de filme de celulose bacteriana como curativo em cirurgia de varizes: um ensaio clínico randomizado”), que foi publicado recentemente pela revista científica Journal of Vascular Surgery: Venous and Lymphatic Disorders (JVS-VL). A avaliação dos pacientes foi feita entre o quarto e o sexto dia de pós-operatório, observando-se aspectos quanto à dor, ao prurido e ao aspecto da ferida, comprovando sua eficácia. Os resultados foram comparados aos de um grupo controle, nos quais foi usada a fita microporosa.
Sob a orientação de Esdras Marques, o estudo foi realizado pelo cirurgião vascular e doutorando Allan Maia, com participação da então aluna da graduação em Medicina da UFPE, Mariana Vieira, com bolsa de iniciação científica do PIC-Ebserh. Teve, ainda, suporte do Núcleo de Apoio ao Pesquisador (NAP) do HC e da empresa Polisa, que produz o biopolímero. O artigo publicado na Revista foi assinado também por Fernanda Rocha, Layla Mahnke, Flávia Morone Pinto, Tiago Pereira, Mariana Neves, Sarah Palácio, Katharine Saraiva, Josiane Barbosa, Simone Penello, Jaiurte Silva e José Lamartine Aguiar.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação
