Crônica de uma cheia anunciada

A enchente que deixou mais de uma dezena de municípios em estado de calamidade pública era uma tragédia anunciada. Quem não se lembra das enchentes do Rio Capibaribe nos anos 70 do século passado? Elas ocorriam em grandes proporções, e com muita frequência, até que um sistema de contenção evitou que a cidade fosse sempre inundada pelo nosso “cão sem plumas

Pois agora acontece a antiga história se repete. Só que na Zona da Mata e no Agreste. Como ocorre no Recife, as cidades do interior ganharam aterros e habitações às margens de rios como o Una e o Ipojuca. Com o leito cada vez mais apertado, eles precisam de espaço para a água passar. Ou de barragens que contenham a sua força. As autoridades sabem dessa necessidade. Tanto que após a tragédia de 2010, quando 80 mil pessoas ficaram desabrigadas, o então Governador Eduardo Campos (PSB) anunciou a construção de um sistema composto por cinco barragens. Sabem quantas estão totalmente concluídas? Nenhuma.

Depois de sete anos de seca, Governador Paulo Câmara (PSB) enfrenta cheia no Agreste e na Zona da Mata
Governador Paulo Câmara (PSB) esteve hoje na   área atingida pelas enchentes e quer restabelecer logo água e luz.

 

Mesmo assim, a maior delas, Serro Azul – que fica em Palmares (a 125 quilômetros do Recife), ainda conseguiu conter um volumão de água. Temos que reconhecer, no entanto, que a situação estaria hoje muito pior se não fosse a represa estar quase pronta. Na Serro Azul faltam acabamento e os sistemas hidráulico e elétrico ainda estão em teste. Ela custou R$ 500 milhões, e tem capacidade para receber 303 milhões de metros cúbicos de água.

As outras quatro – barragens de Panelas, Gatos, Barra de Guabiraba e Igarapepa – são obras completamente inacabadas. Ou mal começadas.  Os índices de avanço de construção vão de 25 a 47 por cento. Enquanto a de Serro Azul custou  meio bilhão, as menores custariam, juntas, cerca de R$ 538,4 milhões, uma quantia menor do que o total que teria sido gasto na construção da Arena Pernambuco. Caso as quatro tivessem sido concluídas no prazo previsto, teriam “segurado” 112,6 milhões de metros cúbicos de água.

O Governador Paulo Câmara (PSB)  instalou um gabinete de crise e Esteve hoje nas áreas afetadas. Informou que disponibilizou 14 escritórios nos 14 municípios em calamidade, para atender às populações atingidas.  Disse ainda que o governo está correndo para restabelecer serviços de abastecimento de água e fornecimento de energia. Também colocou o estado para fazer remoção de entulhos. Assegurou que o governo está enviando colchões, água, e alimentos para as áreas afetadas. Até o início dessa noite, o Governo de Pernambuco contabiliza dois óbitos, 2.279 desabrigados (abrigados em prédios públicos), e 33.625 (desalojados, abrigados em residências de parentes e amigos), após os dois de chuvas intensas na Mata Sul e parte do Agreste. No Recife, há previsão de chuvas para as próximas 24 horas.

Vamos ajudar às vítimas das enchentes? Aqui no Recife, doações podem ser feitas no Quartel Geral da Polícia Militar (no Derby) e no Corpo de Bombeiros (Avenida João de Barros, Santo Amaro). A Organização Não Governamental Novo Jeito já organizou cinco pontos de coleta. Veja os endereços de dois deles:  Posto Shell On Time (Av. Conselheiro Rosa e Silva, 2000, Rosarinho) e Porto Social (Rua Marques Amorim, 356, B, Ilha do Leite). A prioridade é para alimentos não perecíveis e água. A Associação Municipalista de Pernambuco – Amupe (Avenida Recife, 6205). Veja imagens no Facebook do #OxeRecife.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Reprodução da Tv Globo e Divulgação/ Governo de Pernambuco

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