Mais uma obra parada. Dessa vez, uma creche. E ninguém fala nela. É sempre assim. Os gestores públicos anunciam as obras, colocam placas espalhafatosas, com prazo de conclusão, para que chamem atenção da população e de eventuais eleitores. Está se fazendo isso, está se fazendo aquilo. E elas aumentam, quando se aproximam as campanhas eleitorais. Depois, essas obras não terminam, as placas são retiradas, para que a população esqueça que ali foi enterrada uma montanha de dinheiro público. É o exemplo do Programa “Rios da Gente”, onde primeiro se cobriu com tinta preta a logomarca do Governo de Pernambuco, quando tudo parou. Depois, a placa foi totalmente arrancada, às margens da BR-101, onde o antigo canteiro de obras vem sendo transformado em depósito de lixo, enquanto as carcaças das dragas abandonadas ao ar livre, sofrem a pressão da ferrugem.
Na área do município, não são poucas as obras também inacabadas. Dois exemplos significativos são a ponte que ligaria os bairros de Monteiro e Iputinga, que desafogaria o trânsito na Zona Norte. No local, só restam bases de concreto e vergalhões de ferro retorcidos. As estruturas hoje servem para que jovens da comunidade local improvisem sessões de rapel. Outro exemplo é a Unidade de Educação Infantil do Sítio dos Pintos, que deveria ter ficado pronta em janeiro de 2013, e na qual foi enterrada a bagatela de R$ 1,385 milhão. A creche é resultante de parceria entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e a Prefeitura. Fica perto da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e atenderia às crianças de Apipucos, Monteiro, Dois Irmãos e Casa Forte. E de comunidades carentes da área, como Serra Pelada e Favela do Detran. Professores da UFRPE que fazem trabalho social naqueles bairros, até já se mobilizaram para que a construção seja retomada. Mas os apelos à Prefeitura do Recife foram em vão.
Até o ano passado, a placa ainda estava lá, com nome da empreiteira, órgãos envolvidos, valor destinado à construção do prédio, prazo de conclusão. Agora, como que para encobrir mais um desperdício, não há mais nenhuma indicação visível sobre origem e destino da creche, cujas construção deveria ter sido retomada no segundo semestre de 2015, segundo informou na época a Prefeitura. Pois está tudo do mesmo jeito. A creche se integra ao acervo de obras paradas, o que se tornou comum, em Pernambuco e no Recife, onde o seu, o meu, o nosso dinheiro vive sendo enterrado. Fiquei triste, ao ver a cena, durante minha caminhada matinal por aquelas bandas, nesta semana. Será que as autoridades se preocupam com as mães que, sem condições de pagar babás, deixam de trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos?
(Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife)
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