Sobreviver no Sertão não é fácil. Ainda mais nesses tempos de El Niño, de efeitos já preocupantes, agravados pelas mudanças climáticas. Por esse motivo, é preciso construir alternativas de geração de renda para o homem do Semiárido, que ajudem a evitar o êxodo rural e a preservar a flora e a fauna da região. Pensando nisso, a Associação Caatinga vem disseminado a meliponicultura, em 40 comunidades rurais do interior do Ceará e do Piauí. Elas ficam nos arredores da Reserva Natural Serra das Almas, localizada entre Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI). A ação integra o projeto No Clima da Caatinga e beneficia 350 pessoas com a construção de doze meliponários. Estes são as estruturas físicas apropriadas para a criação dos insetos. Até o momento foram distribuídos 310 enxames só com abelhas nativas, segundo informa Daniel Fernandes, Coordenador Geral da Associação Caatinga.
Além da geração de renda complementar, a meliponicultura traz outra vantagem: a conservação das florestas. Por meio do processo natural de polinização, as chamadas abelhas “sem ferrão” contribuem para a preservação da flora, quando ampliam e garantem a variabilidade de espécies nativas do Semiárido. No Nordeste, a Jandaíra (“Melipona subnitida”) é uma das abelhas mais utilizadas para a meliponicultura, porém, trata-se de um animal ameaçado de extinção. Como se sabe, as abelhas nativas são menos agressivas do que as italianas e africanas, que respondem pela maioria dos ataques registrados no país. A meliponicultura é a criação de abelhas nativas da Caatinga de ferrão atrofiado, mas que são conhecidas popularmente como “abelhas sem ferrão”, explica Carlito Lima, agente de mobilização de No Clima da Caatinga. “É uma atividade agrícola sustentável e legalizada que gera renda ao mesmo tempo em que incentiva a polinização de plantas nativas do semiárido”, completa. No Clima da Caatinga é uma ação patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
A Jandaíra, que é uma espécie endêmica da Caatinga, foi escolhida porque o mel da jandaíra tem fortes propriedades medicinais, sabor diferenciado e é usado pelo povo sertanejo há séculos. No entanto, esse animal, ameaçado de extinção, já desapareceu de algumas áreas por causa da falta de florestas, o que traz ainda mais importância para a disseminação da meliponicultura. Para garantir efetividade de produção e sanar dúvidas, a equipe do NCC realiza capacitações sobre meliponicultura, visitas às comunidades rurais para oferecer assistência técnica às famílias e distribuição das ferramentas necessárias para o manejo da abelha Jandaíra. Além disso, o projeto também oferece cartilha sobre o tema, que está disponível para download no site da instituição. Moacir Lima, 41 anos, é agricultor e mora em Santana, comunidade rural de Crateús (CE). Ele iniciou sua jornada como meliponicultor e, até hoje, colhe os frutos da criação de abelhas. “Saber que a gente está contribuindo com a natureza é muito importante. Porque a gente não tá só preservando as abelhas, mas preservando o meio ambiente, né? E ainda por cima conseguindo gerar um dinheiro extra com isso para ajudar na renda familiar”, frisa Moacir.
O projeto é realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, atua no semiárido brasileiro desde 2011 e atualmente está em sua quarta fase. O objetivo é diminuir os efeitos potencializadores do aquecimento global por meio da conservação do semiárido, a partir do desenvolvimento de um modelo integrado de conservação da Caatinga. O projeto No Clima da Caatinga também integra o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Insetos Polinizadores (PAN Insetos Polinizadores), uma iniciativa coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. O PAN contempla mais de 60 espécies ameaçadas de extinção e reconhecidas como polinizadoras, dentre elas, a abelha. A Associação Caatinga é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, cuja missão é conservar a Caatinga, difundir suas riquezas e inspirar as pessoas a cuidar da natureza. Desde 1998, atua na proteção da Caatinga e no fomento ao desenvolvimento local sustentável, incrementando a resiliência de comunidades rurais à semiaridez e aos efeitos do aquecimento global.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Associação Caatinga