“Compensação” pela selva de concreto

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Calma, gente. Foi só divulgar aqui que o Recife iria ganhar 2 mil árvores, para o burburinho começar. Tem gente aplaudindo, estranhando ou pedindo explicação. “Deixe eu ver se entendi, a Prefeitura gasta dinheiro cortando árvores e depois gasta plantando mudas”, afirma a leitora Jupira Ferreira. “Numa cidade com densidade de edificações alarmantes, ainda é pouco”, diz Paulo Felipe Paschoal Perruci, em mensagem enviada ao #OxeRecife. “Vou querer notícias sempre. Vamos embelezar o Recife”, informa Cláudio Carvalho. “Vamos ficar de olho”, promete Helena Amaral, leitora assídua do Blog.

Então vamos explicar. Esse plantio anunciado pela Secretaria de Sustentabilidade e Meio Ambiente do Recife e pela Associação de Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE) é uma providência da iniciativa privada, mas através de acordo fechado com a Prefeitura. E não traz nenhum ônus para os cofres públicos. A medida é uma forma de compensação pelas árvores eliminadas por essas empresas, durante o avanço da “selva” de concreto:  construção edifícios, viadutos, condomínios. Pela lei, a cada árvore derrubada, duas devem ser plantadas. Solicitei informações à Secretaria sobre o número de árvores degoladas para implantação de empreendimentos, nos últimos cinco anos. Queria saber se a balança da retirada e da reposição está equilibrada. Os números ainda não me foram fornecidos. No ano passado, em apenas uma obra, dez árvores foram derrubadas, como ocorreu na sede do Tribunal Regional do Trabalho.

No ano passado, em um só dia, o TRT eliminou dez árvores para realização de obra em sua sede, no Cais do Apolo

Mas dá para deduzir que se 2 mil vão ser plantadas, de uma só tacada, é porque a “compensação” demorou muito para ser realizada. Devia ser assim: derrubou uma, planta-se logo duas. Ou quatro. Ou mais ainda. “A preocupação maior será manter e acompanhar esse crescimento. A Ademi levou muito tempo para assumir a responsabilidade. Ela pode e deve fazer mais”, alerta Paulo Felipe.  De acordo com a Prefeitura, a Ademi vai gastar R$ 800 mil na empreitada. E as árvores que serão plantadas não são pequenas mudas, mas já adultas com não menos de três metros de altura. Já é um avanço. Porque vejo o plantio oficial em calçadas e parques, de pequenas mudas, o que dá um índice de mortalidade alto (cerca de 30 por cento). Pelo entendimento, se alguma morrer terá que ser recolocada no mesmo lugar.

Anotem aí os locais anunciados para a “compensação”, porque ninguém melhor do que a própria população para fiscalizar. As áreas beneficiadas serão: Complexo Viário do Cabanga; Entorno do Hospital da Mulher; Passeios de Joana Bezerra; Avenidas Domingos Ferreira e Mascarenhas de Morais (Imbiribeira); Via Mangue; Terminal Marítimo; Ilhas do Leite e do Retiro; Praças Antônio Maria, Arraial do Bom Jesus e do Túnel da Abolição (esta, aliás, virou um descalabro). Há, também, dúvidas quanto aos locais dos plantios, inclusive na Zona Sul. “Vai ter na alça da Via Mangue, onde os pedestres passam?”, indaga Cezar Martins. Bom, plantar 2 mil árvores é muito melhor do que não plantar nenhuma. Vamos esperar, agora, a reposição das que foram eliminadas pela motosserra insana, pela própria Prefeitura, em parques, ruas, jardins, alvos da nossa campanha Parem de derrubar  árvores. O #OxeRecife é totalmente contra o arboricídio.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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