A chegada das chuvas não deixa só as ruas alagadas. Antes delas ou após a estiagem, dois fenômenos são observados no Recife: revoada de cupins e de tanajuras. No primeiro caso, toda preocupação é pouca. Pois esses insetos – tão úteis nas florestas para degradar a madeira morta, adubando assim o solo – só provocam muita dor de cabeça no perímetro urbano. E no ambiente doméstico, então nem se fala. E nessa época, são nuvens de cupins que a gente vê perto de nossas casas. O estrago que eles podem trazer para móveis, livros, documentos, só não é maior, porque eles voam para acasalar, perdem as asas e … morrem.
Já as tanajuras provocam uma verdadeira festa, entre adultos e crianças. O que se vê em praças e jardins, é uma espécie de caça ao tesouro, pois para muita gente esses insetos graúdos constituem verdadeira iguaria. Tem quem coma frita, com farinha. Há, também, quem devore a sua bunda crua, logo após o inseto ser capturado. Nesta semana, em praças como a de Apipucos e a do Monteiro, era muita gente caçando tanajura. Até mesmo em repartições públicas tinha servidores procurando o inseto, ao final do expediente. Como nos jardins da Fundação Joaquim Nabuco, onde estive na terça-feira. Louco pela iguaria, meu amigo Emanoel Correa até escreveu um texto sobre as “rainhas” e enviou para o nosso grupo “Bora Preservar”, no Zap.
Olhem o que ele diz: “Quem foi que nunca viu um formigueiro de “saúva” ou “saúbas”? Não importa a pronúncia, pois as duas grafias estão corretas. As palavras têm origem tupi, e aquelas bem graúdas são as rainhas, chamadas de tanajura na linguagem popular, podendo viver de 20 a 30 anos. Já os machos de “içá” voam para acasalar e têm tempo de vida curto, pois morrem logo após o ato . Uma coisa é certa, logo após as chuvas, as tanajuras aparecem e muitos que apreciam o prato, saem em busca do petisco. O hábito foi herdado dos índios e terminou caindo no gosto nordestino. Nos tempos de menino era uma farra correr para os formigueiros e, durante o trajeto, encontrarmos os machos voando. Então, corríamos atrás, cantando: ‘Cai, cai tanajura, que na tua bunda tem gordura”. Ele lembra que, “na nossa inocência”, as crianças achavam “que a canção era que fazia com que caíssem no solo, e não o cansaço”.
Meu amigo lembra, ainda, que das rainhas, 99 por cento não sobrevivem para formar um novo formigueiro. Mas as que sobram têm importante função na adubação da terra, nas florestas. E aí vem a gula.”Mas que a bichinha na manteiga com farofa (e uma cervejinha estupidamente gelada) é uma delícia, ah, isso não podemos negar”. Emanoel, que admira muito o “petisco”, afirma que seu valor proteico ultrapassa o dobro do encontrado, por exemplo, na carne de frango. “Inclusive quando vou a Caruaru, nas festas juninas, lá no Pátio de Eventos, costumo ir a uma barraca, lá no final e perto do palco, que serve o petisco deliciosamente crocante”, lembra. E suspira: ”Já deu até água na boca”. Não sei o preço, mas em Apipucos a molecada estava vendendo um copo cheio de tanajuras por preços que iam de R$ 10 a R$ 20. Uma garrafa PET de um litro cheia, pode custar mais de R$ 100. Formiga cara….
Olha só, a movimentação no vídeo-relâmpago abaixo…
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife e Emanoel Correia / Bora Preservar
Fotos: Acervo #OxeRecife, Emanoel Correia e Internet