Tome cuidado com o que você come. E, também no Recife, dê preferência às feiras agroecológicas, para comprar suas frutas, verduras e hortaliças. Porque se a ameaça de comer veneno já era grande antes, agora é cada dia maior. Isso porque desde o mês de janeiro – quando tomou posse o atual Presidente – nada menos de 239 agrotóxicos foram liberados no Brasil. Destes, 43 por cento são altamente ou extremamente tóxicos enquanto 31 por cento são de uso proibido na União Europeia.
Em outras palavras: a vida da população e a natureza não estão mesmo valendo nada no Brasil. Pelo menos para os mandatários do País. Tem mais: há 558 pedidos de registro de novos produtos do gênero, já acatados pelo Governo. Dá para entender a consequência disso? Lembro-me de uma cidade pernambucana onde estive como repórter, Camocim de São Félix, que é grande produtora de tomate. Lá estive em campos que haviam sofrido pulverização há mais de cinco dias. Mesmo assim, minhas narinas ficaram ardendo, a boca amargando. Imaginem comer alimentos “banhados” com esses produtos. Saí de lá com a impressão de que o uso descontrolado desses venenos já estava provocando deformações genéticas na população, pois foi a cidade onde vi a maior quantidade de pessoas com deficiências físicas, como atrofias dos membros. Lembro-me, também, de pessoas mutiladas que perderam pedaços da perna por conta do contato de feridas com os venenos. Alguns tiveram gangrena. O assunto foi alvo de reportagem minha, em jornal em que trabalhava como correspondente aqui na região Nordeste.
A advertência sobre a liberação de agrotóxicos consta de um documento divulgado pelo Greenpeace, intitulado Pacote de Maldades do Governo, no qual são enumeradas nada menos de 16 iniciativas contra o Meio Ambiente. A publicação trata não só da questão defensivos agrícolas, mas também das mudanças na estrutura administrativa dos órgãos ambientais do Brasil. De acordo com o Greenpeace, entre “os golpes contra o meio ambiente” estão: o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente; a a extinção de várias secretarias importantes (Mudanças do Clima; Extrativismo e Desenvolvimento Sustentável; e ainda a de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental). O Greenpeace também cita o enfraquecimento de acordos internacionais, imprecisões nas competências de licenciamento ambiental e enfraquecimento e perda de autonomia do ICMBio.
Para o Greenpeace, no que diz respeito aos agrotóxicos “é um volume inédito e preocupante”, que provocará maior “contaminação do solo e da água, aumento dos problemas da saúde humana e ainda impactos negativos na flora e na fauna”. O Greenpeace lembra reações de autoridades internacionais contra as políticas ambientais adotadas no novo governo. “A enxurrada de críticas internacionais não são apenas coerentes, como profundamente graves”. E justifica: “Em seis meses, a única agenda adotada pelo novo governo foi a de enfraquecer leis e órgãos de proteção e fiscalização ambiental, atacar povos indígenas e áreas de preservação, e adotar medidas que beneficiam criminosos ambientais e estimulam o desmatamento”. Não pode ser à toa, portanto, que lideranças internacionais vêm adotando postura de crítica e cautela quanto à atual política ambiental do Brasil.
“Em apenas seis meses de gestão, Bolsonaro já coleciona retrocessos gigantescos para o meio ambiente e para a imagem do Brasil. O atual governo representa uma ameaça ao equilíbrio climático e isso custará muito caro à nossa economia”, comenta Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace. Prova disso – acrescenta o Greenpeace – é que no último dia 18,” cerca de 340 organizações pediram à União Europeia que interrompa as negociações sobre um acordo comercial com o Mercosul até que o governo ofereça garantias de não retrocesso em suas políticas socioambientais”. Para o Coordenador do Greenpeace, o Presidente “está na contramão do mundo”. E conclui Astrini: “Suas decisões jogarão por terra décadas de conquistas ambientais e poderão transformar o Brasil em um dos vilões do clima”. E pelo que se observa, o alerta é grande. Vejamos: na Europa, além de autoridades como – Angela Merkel (Chanceler da Alemanha) e Emmanuel Macron (Presidente da França) – 340 organizações e 600 cientistas já se pronunciaram, manifestando o espanto com as atitudes adotadas no Brasil, na questão ambiental. E no próprio país, oito ex-Ministros do Meio Ambiente divulgaram carta conjunta, em abril, manifestando a mesma preocupação. Está difícil…
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife
Parabéns pelo excelente texto da reportagem sobre o recente aumento, indiscriminado, do uso de agrotóxicos no Brasil.
Sim, o país está enfrentando um período histórico dos mais obscuros e assistimos, com indignação, ao desmonte de conquistas obtidas com muita luta, durante anos. A população está ameaçada de todas as formas, até o limite extremo de ser envenenada.