Cinema Glória agora é Lin-Lin

Raríssimo exemplar da arquitetura Art Nouveau no Recife, o Cinema Glória virou “Galeria” (foto) e o nome “Cinema” até desapareceu de sua histórica e linda fachada, o que é uma pena já que o imóvel é tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Mas, apesar do nome Galeria Glória, o imóvel também não funciona mais como um espaço comercial com várias lojinhas, como ocorria até 2019. Agora é só Lin-Lin, uma casa de artigos de festas, com proprietários chineses.

Ainda bem que, pelo menos, o Glória está mantido na fachada. Já pensou se o antigo  nome for substituído por Lin-Lin? O que vai restar da memória dos cinemas no centro do Recife, de onde já se foram o Moderno, o Art Palácio, o Trianon, entre tantos outros? Até  o primeiro semestre de 2019, o antigo cinema era um amontoado de pequenos compartimentos, a maioria destinada à venda de confecções populares. E sua fachada – rosa desbotado pelo tempo – estava caindo aos pedaços. Dava até pena. Ou seja, o Glória – que há 35 anos deixou de ser cinema – também já não funciona como galeria comercial.

Cinema Glória passou a ser galeria e agora é Lin-Lin, mas pelo menos não é mais da cor rosa desbotado como a foto.

A Lin-Lin é uma casa de festas, com donos chineses típicos de um comércio que vem proliferando no centro do Recife, em bairros como Boa Vista e São José.  A loja se instalou ali há cerca de seis meses. Pelo menos, deu uma recuperada na fachada e não lhe encobriu com placas enormes, como essas horrorosas que os comerciantes costumam utilizar, para “modernizar” os antigos imóveis do Recife. Vi a mudança em uma de minhas últimas passagens pelo Bairro de São José, durante incursão com o Grupo Caminhadas Domingueiras. O antigo Cinema Glória  não tinha uma placa turística sequer, exaltando a sua antiga função de cinema popular na Praça Dom Vital, um das mais características do centro.

O Cinema Glória foi inaugurado em 4 de setembro de 1926, no local onde funcionava o antigo Cinema Popular, com a frente para a Praça Dom Vital e a parte posterior para a Rua Direita.  Tinha duas tarifas, para primeira e segunda classes, e passou a ter 351 cadeiras quando a segunda foi extinta. A última exibição foi em agosto de 1984, época em que muita gente pagava um ingresso mais para dormir o descansar, do que para assistir um filme. Sem uso, o prédio entrou em processo de decadência, até que virou uma galeria comercial. Com a loja de artigos de festa, ganhou novas cores, mas sua fachada ainda é ofuscada por um fiteiro que toma boa parte da calçada em sua frente.  Foi tombado pela Fundarpe em 28 de janeiro de 1983. De acordo com a Fundarpe,  em 25 de novembro de 2003 houve mudança no decreto de tombamento, ficando este “restrito às fachadas e à volumetria do imóvel”. O órgão informa, ainda, que a última reforma foi realizada “sem qualquer comunicação à Fundarpe”, conforme nota enviada ao #OxeRecife. Ou seja, agora, todo cuidado é pouco, para que o Cinema Glória não vire Lin-Lin.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife 

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