Cientistas contestam Bolsonaro: “Avanços da Medicina não podem ser ignorados”

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A atitude genocida do Presidente Jair Bolsonaro, conclamando as pessoas a irem às ruas apesar da pandemia do coronavírus chocou a população, as autoridades internacionais e dividiu até seus próprios aliados. Nos meios científicos, a unanimidade é grande contra a sua posição, por ter minimizado os riscos do que, segundo ele, seria uma “gripezinha” ou um “resfriadinho”. No Recife,  a Academia Pernambucana de Ciência divulgou uma nota repudiando por completo “a orientação central” do atual Presidente da República feita em rede nacional, sobre o Covid-19. A  APC – que tem 85  membros – reforçou o conselho para que “os brasileiros fiquem em casa”. A nota da APC questiona a atitude do Presidente, frente a uma pandemia que “já ceifou e continua ceifando milhares de vidas nos diversos países onde está presente, inclusive o Brasil. Veja o que diz mais a nota:

“O Presidente da República, desrespeitando as diretivas do seu atual Ministério da Saúde, convocou a população a voltar à vida normal, quebrando a diretriz central da Organização Mundial da Saúde (OMS): primeiro, a vida e como consequência, manter a população em casa, reduzindo o ritmo do contágio para que os casos graves possam ser tratados tendo em vista a capacidade de atendimento da rede disponível, que está sendo ampliada. A ciência e os avanços da medicina não podem ser ignorados neste movimento de preocupação do pessoal da saúde, dos cientistas e de todo o povo brasileiro.

Repudiamos, portanto, as orientações dadas pelo Presidente da República e recomendamos que a população siga as recomendações que deveriam das diretrizes da OMS e dos cientistas brasileiros que estão na ponta e cuidando do problema, sentindo a realidade da situação do nosso sistema de saúde, que começa a receber os pacientes acometidos pelo Covid-19. Um debate paralelo, mas submetido à prioridade à saúde, será o das medidas necessárias para que os impactos econômicos e sobretudo sociais deste período de redução drástica da atividade econômica sejam enfrentados e neles, também, o papel dos governos – em especial do Governo Central – é estratégico.  A maioria dos países do mundo está seguindo esse roteiro e o Brasil tem como enfrentar esse desafio.

Elogiamos e apoiamos o papel que os órgãos de comunicação vêm desempenhando na transmissão da informação à população, mas criticado pelo Presidente da República, e antecipamos nosso reconhecimento e agradecimento aos profissionais da saúde que estão desde o início arriscando suas vidas e trabalhando incansavelmente. Contrariando as recomendações da OMS, baseadas em evidências científicas e ao comportamento adotado por todos os países afetados pela pandemia, o pronunciamento do Presidente da República, além de menosprezar todas as recomendações, contribui para a desmobilização da população, ao mesmo tempo em que expõe milhares de brasileiros a riscos desnecessários.

Defendemos firmemente que os brasileiros não envolvidos em atividades essenciais ‘fiquem em casa’ e sigam as orientações das autoridades sanitárias, que são baseadas em evidências científicas e no histórico recente da doença em outros países. Vamos vencer mais essa situação. Certamente venceremos o coronavírus com o conhecimento científico desenvolvido no Brasil e no mundo, é uma questão de tempo.

A nota é assinada pelo presidente da ACP, José Antônio Aleixo da Silva (foto à esquerda), que tem importantes contribuições em conhecimento e preservação de florestas, com longa atuação como Secretário Regional da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Entre os cientistas que integram a ACP, encontra-se Celina Turchi, que ficou internacionamente conhecida, devido ao seu trabalho sobre o vírus da Zika e sua relação com a microcefalia. 

 

Entre outros integrantes da ACP, encontram-se os seguintes pesquisadores, com contribuições em suas respectivas áreas:  Leda Régis (  no conhecimento e comportamento e controle de populações dos vetores da dengue e da filariose): André Furtado (que impulsionou os estudos em doenças negligenciadas como pesquisador e diretor da Fiocruz-PE); Rafael Dhalia (desenvolveu vacina contra o DENV  – vírus da dengue –  atualmente em teste, fase 3; Raul Manhães (professor emérito da UFPE, destaque em área de Nutrição e Saúde);  Tânia Bacelar (economista, com contribuições na área social em Pernambuco); e  Amaro Lins (ex-reitor da UFpe, com importante papel  na criação dos campi de Vitória de Santo Antão e Caruaru, com ênfase nas áreas de saúde).

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Academia Pernambucana de Ciências / Cortesia

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