Chuvas, “heróis”, bichanos e totós

Compartilhe nas redes sociais…

Quem não se comoveu, ao assistir – pela TV – cenas de milhares de famílias fugindo do conflito na Ucrânia, levando seus bichinhos? Um cachorro, um gato, um coelho. Lembro de uma ucraniana dizendo que o “coelhinho foi a única coisa que sobrou”. Na tragédia provocada pela chuva na Região Metropolitana – que matou 126 pessoas – a prioridade, claro, era salvar vidas humanas.  Mas o amor aos animais é o mesmo que se vê durante aquela guerra. Muitos atingidos pelas águas só resolveram deixar suas casas depois da certeza que poderiam levar junto os seus bichinhos: caninos, felinos, pássaros, papagaios. Morador da comunidade do Areal, em Apipucos, o pedreiro Antônio Gomes Filho virou “herói”. Perdeu as contas dos animais domésticos que salvou dos vizinhos, remando  no seu barco contra a força do Rio Capibaribe. Primeiro as pessoas, depois os bichinhos. Ele chegou a resgatar cachorros que já estavam sendo levados pela correnteza perto da comunidade do Detran, próximo à BR-101.  A cada animal que chegava salvo, os desabrigados aplaudiam. Louros, porcos, cães, cabritos. Entre humanos, suínos, pássaros e caninos da vizinhança, Antônio (no vídeo abaixo) não sabe a quantidade dos seres vivos que resgatou.

O Bairro de Apipucos, onde resido é “rurbano”, como dizia Gilberto Freyre. Então, no sábado pela manhã, já era grande a quantidade de pessoas levando seus animais para locais seguros: cabritos, cavalos, jumentos, porcos. Curioso: Desorientados, alguns equinos se recusavam a  obedecer aos seus donos.  Os animais foram abrigados em um sítio vizinho, da Igreja Católica, sendo que algumas “famílias” de suínos chegaram à Praça do bairro, onde passaram a catar restos de comida no lixo das calçadas, deixados pelas quentinhas fornecidas por voluntários aos desabrigados.  No Recife, a Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais (SEDA), consolidou parceria com o Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD), organização que promove ajuda aos animais em circunstâncias de vulnerabilidade provocadas por desastres. Na terça-feira (31), acompanhados por servidores da SEDA, o GRAD-Brasil esteve no bairro de Areias, uma das áreas atingidas pelas fortes chuvas dos últimos dias. No local, foi feito o levantamento das necessidades dos tutores, como pedidos de ração ou medicamentos para os animais, além de orientações acerca de possíveis zoonoses.

Foram resgatados animais que estavam ilhados em um abrigo de caninos, e feitas chamadas para adoções. “A SEDA tem um papel fundamental diante dessa tragédia em curso, que é dar assistência aos animais. Buscamos parceria com um grupo especializado nesse tipo de resgate. Eles têm expertise e estão conosco desempenhando esse serviço essencial. Sabemos que a prioridade é o bem-estar das pessoas, mas os animais não podem ser deixados de lado”, pontuou o secretário executivo dos Direitos dos Animais, Geraldo Carvalho. O secretário reforçou que é comum que famílias em situação de vulnerabilidade resistam em deixar as áreas de risco também por conta dos seus animais. “Os tutores e seus animais estão sendo acolhidos nos abrigos emergenciais montados pela Prefeitura”, acrescentou.

Os pontos de doação localizados na Prefeitura do Recife (Bairro do Recife), Sítio Trindade (Casa Amarela) e Parque Dona Lindu (Boa Viagem), também estão preparados para receber rações, medicamentos, caminhas para animais domésticos. Esses itens serão recolhidos conforme demanda e distribuídos de acordo com o levantamento feito pela SEDA.

A coordenadora do GRAD-Brasil, Marilyn Nascimento, explicou que além do resgate, a organização segue todos os protocolos sanitários. “Atuamos na mitigação de possíveis zoonoses que venham a surgir por conta das chuvas, como leptospirose, raiva, leishmaniose, entre outras. Nossa função é agregar, no atendimento das famílias, para que os animais não virem um problema pós-desastre”, disse. O grupo é especializado em situações emergenciais e atuou em eventos como a recente tragédia em Petrópolis (RJ) e Brumadinho (MG). Na tarde da última segunda-feira (30), a SEDA e o GRAD-Brasil foram acionados para ajudar no resgate no Abrigo Planeta Patinhas, no bairro do UR-11, Ibura.

Após o temporal, eles chegaram no primeiro dia de sol e foram recebidos com frutas na varanda.

Gra, uma cadelinha, é uma sobrevivente que foi desenterrada viva pelos voluntários. Os demais foram encontrados mortos ou estão desaparecidos. Ainda no local, ela teve os primeiros atendimentos realizados por médicos veterinários voluntários e da SEDA. Após uma avaliação, foi constatada fratura no membro anterior direito. Em uma ação da SEDA com clínicas veterinárias parceiras, foram realizados os exames necessários no animal. A sobrevivente irá, agora, passar por cirurgia e segue acompanhada pela equipe da SEDA. Os atendimentos no Hospital Veterinário do Recife Robson José Gomes de Melo, situado no bairro do Cordeiro, seguem normalmente. Consultas e procedimentos devem ser agendados junto à Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais através do telefone 4042-3034. O mesmo número também funciona para denúncias. Eu não tenho animal doméstico no momento. Mas curto mais felinos do que caninos. Porém não mais os tive desde a morte de Rabutã, um gato persa amoroso e companheiro, que era como se fosse da família. Hoje, me divirto apenas com pássaros, borboletas e outros “amiguinhos” que aparecem na varanda, como os saguis. Como esse da foto, que deu o ar da graça no primeiro dia de sol após o temporal. Foi recepcionado com um banquete de frutas, claro!

Leia também
Temporal: Vítimas chegam a 120
Pernambuco chora seus mortos
Bombeiros buscam ainda buscam dez corpos
Pró-Criança ajuda populações atingidas
Óbitos passam de cem e 24 municípios estão em emergência
Tragédia: Dia de  ver o que sobrou
Chuva, alagamento e monitoramento
Rede de fast food jogou lixo no canal?
Moradores reclamam mais uma vez da sujeira da McDonalds. Fiscalização?
Temperatura amena, chuva e “estiagem” em casa
Ventos, frio e chuvas de agosto
Com chuva e sem água na torneira
Recife tem chuvas concentradas mais uma vez. Emergência climática?
Em três dias, 71 por cento de toda a chuva prevista para abril
Chuva (de seis horas) equivalente ao previsto para dez dias do mês de março
Cinco dias de chuva que valem por cinco
Temporal derruba oito árvores
Zona Norte: Ruas e garagens alagadas
Ruas inundadas e Capibaribe cada vez mais caudaloso
Lixo retirado dos canais já é 20 por cento do total coletado no Recife
Lixo oficial permanece às margens do Rio Capibaribe
Praça de Casa forte perto do fim dos alagamentos
Águas pluviais e esgoto doméstico: quando tudo se mistura sob o chão
Chuvas: Jacarés ganham ruas
Temporal: Formigueiro e ninho de João-de-barro à prova de chuva
Segunda feira de chuvas sem o romantismo dos blocos
Morros ganham parceria contra chuva
Chuva: Se precisar chame o 0800 0813400
Eventos adiados devido à chuva
Chuva adia caminhada do Forró e fecha equipamentos culturais do Recife
Urgente: Chuva fecha Jardim Botânico
Crise hídrica na conta de energia e excesso de chuva no Sertão

Exposição: O Sertão virou mar no Cais
Ministro manda oceanógrafo trabalhar na caatinga. E o sertão já virou mar?
Chuva atrapalha produção de frutas
Chuva no Sertão prejudica fruticultura 

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação
Vídeos: Letícia Lins e Antônio Gomes Neto

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.