Censura a nome de Bolsonaro em vídeo da UFPE provoca exoneração de diretor

Motivo de polêmica no Brasil e no exterior –  como na charge acima publicada na imprensa alemã –  e conhecido por não medir esforços para desqualificar os meios de comunicação, Jair Bolsonaro virou alvo de autocensura na Universidade Federal de Pernambuco.  Aliás, a simples citação de seu nome em um vídeo sobre a importância do isolamento social na pandemia deu origem à confusão.  Sabe aquele efeito dominó, onde uma pedra puxa outra? Pois a perseguição a opositores, a invocação indevida da Lei de Segurança Nacional, a tentativa de desacreditar a imprensa e de impor censura, começa a fazer escola.

Infelizmente, na Ufpe, a auto censura já começou. Professor titular da cadeira de história da Ufpe e desde 2020 respondendo como Diretor do Núcleo de Televisão e rádio universitárias da Ufpe, Marco Mondaini acaba de entregar o cargo de direção, diante de autocensura imposta pela reitoria a um clipe que seria exibido na TVU e nas redes sociais, em que era feita a defesa da ciência e do isolamento social, no caso da Covid-19. A reitoria exigiu que uma frase em que consta o nome do Presidente fosse retirada do vídeo. Mas entre a censura e o cargo de diretor, o professor preferiu se posicionar contra a censura e ficar sem aquela função.

“Tudo histeria e conspiração”. Negacionismo brasileiro ironizado em charge na Alemanha e divulgado no Brasil.

O vídeo não tem um só adjetivo, não chama ninguém de genocida nem culpa o governo federal ou nenhum outro pelo número de mortes e pela explosão dos casos de Covid-19 no Brasil. Também não tem locução, mas apenas fundo musical. E se limita a mostrar as manchetes da imprensa nacional  e internacional sobre a pandemia, a partir do primeiro óbito registrado, em março de 2020. Também utiliza colocações de instituições como a própria Ufpe e o Observatório Covid-19. As frases utilizadas no clipe   todas com  letras brancas sobre fundo preto (simbolizando o luto por tantas vidas perdidas) são:

“Ministério da Saúde confirma primeira morte por coronavírus no Brasil”;  “Cientistas alertam: contágio é exponencial e só lockdown impede tragédia maior no Brasil”; “ Bolsonaro diz que lockdown não dá certo e volta a criticar governadores”; “Brasil vive o maior colapso hospitalar da história”; “Brasil é epicentro global da tragédia da Covid-19”; “País totaliza 284.775 vidas perdidas desde o início da pandemia”; “Pesquisadores da Ufpe comprovam eficácia do isolamento social no combate à transmissão do coronavírus”.

No final, o recado, também em letras brancas: “Somente juntos, com que as próximas notícias sejam melhores! A Ciência  está fazendo a parte dela”. E em vermelho, a advertência final: “ Faça a sua. Fique em casa”. Nenhuma das manchetes utilizadas é inédita. Ao contrário, foram reproduzidas a partir de publicações empresas de comunicação como O Globo, El País, BBC, UOL e entidades como a própria Ufpe e o Observatório da Covid-19.

O clipe, que tinha unicamente a intenção de conscientizar a população sofreu autocensura. Na sexta (19/03), Mondaini foi procurado pela Superintendente de Comunicação da Ufpe, Sofia Costa Rego, que informou que o reitor Alfredo Gomes determinara que fosse retirado do vídeo a frase que falava em Bolsonaro. O vídeo fora produzido pela Coordenação de Jornalismo da Ufpe. Logo depois, o professor entregou o cargo de diretor do  NTVRU e divulgou o motivo do seu ato nas redes sociais. O Sindicato dos Jornalista está colhendo assinaturas para divulgação de nota contra censura e em solidariedade ao professor.

Veja o vídeo da polêmica e que sofreu autocensura:

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Redes Sociais

 

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