Conversar com Cecília Brennand é um pouco inquietante. E também enriquecedor. Inquietante, porque para a repórter, que gosta de disciplinar a entrevista, para conduzir o fio da meada – como é o meu caso – o diálogo vai seguindo com os assuntos saindo aos borbotões, quando o tema se refere às múltiplas atividades do Aria Social. Ou seja, um assunto puxa outro, uma ação vem seguida de uma ou outras ações secundárias, mas igualmente importantes. Enriquecedor, porque é gratificante saber como um trabalho social pode mudar tantas vidas. De crianças, de adolescentes, de adultos. E a noite dessa quinta-feira é de Cecília e todos aqueles que fazem o Aria Social. É que orquestra e dançarinos ocupam o palco do Teatro Santa Isabel, para brindar o público com o espetáculo Capiba – Pelas ruas eu vou, que nada mais é do que uma merecida e caprichada homenagem ao gênio pernambucano da música, e que compôs em tantos ritmos. O musical foi a forma escolhida para comemorar os 30 anos do Aria.
Aqui já falamos a respeito do musical sobre Capiba, É imperdível. As apresentações acontecem em outubro (de 13 a 16) e em novembro (de 3 a 6). Agora, voltemos ao Aria Social, entidade fundada por Cecília através da qual pretendia fazer um trabalho com fins lucrativos, em que pudesse integrar a música e a dança. O Aria seria, então, um espaço para atividades culturais, a ser mantido com aulas de dança voltadas para a classe média. A escola garantiria o custo daquele que transformou-se em um centro cultural. No sonho de Cecília, também a produção de espetáculos como foi a Peles de Lua, um grande sucesso, realizado pela sua Companhia Sopro de Zéfiro e que é anterior ao Aria. Ou como Lua Cambará, espetáculo com o qual viajou por várias cidades brasileiras e chegou a Portugal. Mas a produção de espetáculos grandiosos como aqueles dois (levados por seu inicial grupo de dança) mostrou-se um sonho difícil de concretizar pelo Aria, da forma como este foi concebido.
Foi aí que o Aria começou a atender meninos e meninas de projetos sociais. Cecília percebeu, então, que deveria rever os objetivos para a entidade que inaugurara em 2022. Decidiu transformar o Aria em Oscip (organização da sociedade civil de interesse público). “Em 2004, mudei o nosso CNPJ, e comecei de fato o trabalho social e a realizar tudo que sonhei para o Aria”, informa. E, assim, começou a viabilizar o que sonhara. Conseguiu realizar O Nosso Villa (em homenagem a Villa-Lobos) e Três Compassos. E inicia, hoje, a apresentação Capiba – Pelas Ruas eu vou, cujo ensaio assisti na sede do Ária, em Piedade (Jaboatão dos Guararapes). Recomendo, pois está imperdível. Aualmente o Aria Social movimenta vários projetos e já atendeu a mais de 8 mil pessoas. “É uma grande responsabilidade, que virou um propósito de vida, meu e da equipe a partir do momento da importância social do nosso trabalho”, afirma ela, que é dançarina por formação. “Se não existisse a Lei Rouanet, o Aria também não existiria”, diz, referindo-se à Lei 8.313 de 1991, que incentiva a Cultura.
Hoje trabalham 39 pessoas no Aria, sem contar o voluntariado e as parcerias, como as com a Universidade Federal de Pernambuco e o Conservatório Pernambucano de Música. E o Aria já não limita o foco à dança. Trabalha com quatro eixos de atuação: arte e educação; produção de espetáculos musicais, inclusão, empreendedorismo. Em arte e educação, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social ganham aulas de português, incentivo à leitura, de música e dança. Nesse setor, o Aria está tentando chancela para viabilizar a formação de professores de dança. A produção de espetáculos, vai de vento em popa, e Capiba é a prova disso. A captação de recursos via Lei Rouanet começou ainda antes da pandemia e ganhou a ajuda de patrocinadores como Nadir Figueiredo, Grupo Parvi, Laboratório Marcelo Magalhães, Flor e Arte e Magnum Tires.
O Aria é assim, as necessidades vão acontecendo, e outros projetos vão surgindo. Foi o caso da Casa de Maria, que se enquadra no foco empreendedorismo e sobre o qual falaremos em uma outra postagem. Só para resumir, surgiu para assistir a mães enquanto esperavam os filhos e que terminaram por aprender uma atividade e dela viver. Também algumas levavam os filhos com necessidades especiais, para esperar o irmão ou irmãzinha que aprendiam balé ou música. Então, surgiu um projeto para atender crianças e jovens com Síndrome de Down. Ou seja, no Ária é assim: uma necessidade gera um projeto, como o ritmo da música impõe os passos da dança. Para ajudá-la na direção do empreendimento, Cecília chamou Rosemary Oliveira, maestrina, responsável pela direção musical de Capiba – Pelas ruas eu vou, e hoje seu braço direito na condução do Aria Social.
Veja um outro trechinho (além do já publicado) do ensaio do espetáculo sobre Capiba:
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Serviço
Para quem quiser conferir o espetáculo do Aria Social, que estreia hoje
Evento: Musical Capiba – Pelas ruas eu vou
Quando: 13 a 16 de outubro e 03 a 06 de novembro
Horário: 20h
Local: Teatro Santa Isabel
Vendas: Sympla; na Sede do Aria Social (Av. Ayrton Sena, 748, Piedade) ou bilheteria do Teatro Santa Isabel (Praça da República, 233, Santo Antônio); e também na sede de O Galo da Madrugada (Rua da Concórdia, 984, São José)
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação
Vídeo: Letícia Lins