Muito oportuna a mobilização do Grupo Direitos Urbanos, para impedir que as duas casas modernistas da Avenida Rosa e Silva, no bairro das Graças, desabem de vez. Em menos de um mês, já somam dois os protestos em frente às duas construções, tão importantes para a história do nosso patrimônio arquitetônico. O último foi no sábado, 17. O protesto, aliás, tem sido a única forma que vem sendo encontrada para denunciar a inércia do poder público, assim como para pressionar para que este tome alguma providência, já que naquele caso, a lei não vem sendo cumprida.
Isso porque as duas são consideradas Imóveis Especiais de Preservação pela Prefeitura, desde 2015. Então, há de se perguntar: se o Município reconhece que as duas edificações tão importantes, como pode ter deixado que tenham chegado a tal ponto? Ambas estão prestes a ruir. Já não basta ter autorizado a demolição do velho e lindo sobrado onde funcionava a Padaria Capela, que virou uma farmácia com fachada sem nenhum compromisso com a memória da cidade? Ele ficava na esquina da Rosa e Silva com a Rua Amélia, vizinho às duas casas modernistas, que estão em ponto de ruir, da mesma forma que vêm desabando velhos casarões do bairro da Boa Vista.

As duas estão sem janelas, sem portas, as paredes caindo e, o que é pior, sem teto. E vêm sendo criminosamente pilhadas. Segundo informações, os próprios donos – que vêm sendo acionados na Justiça – teriam interesse em transformá-las em ruínas sem chance recuperação, para que o terreno sejam vendido para construção, claro, de edifícios. A especulação imobiliária, sempre ela… Os imóveis, de números 625 e 629, foram projetados em 1958 pelo arquiteto Augusto Reinaldo (1924-1958). O estado das duas construções motivou moção de repúdio do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco contra a destruição “criminosa” que ali vem sendo observada. O Conselho lembra que o decreto que garante a preservação do imóvel “não foi suficiente” para evitar que ambos, “ao longo desses três últimos anos, tenham sido sistematicamente degradados a olhos vistos e à revelia de uma legislação que os protege”.
Há duas semanas, o Grupo Direitos Urbanos organizou um protesto contra o descaso. Ele incluía café da manhã, palestras, oficinas. Mas nada pôde ser feito no dia 3 de fevereiro, quando os ativistas tentaram ocupar o imóvel para um dia de discussões sobre a forma como o patrimônio da cidade é tratado. Ao chegarem, os manifestantes encontraram operários colocando tapumes no local, às pressas, e não puderam passar da calçada. Com os tapumes, ficou ainda mais difícil para a população fiscalizar o que acontece ali dentro. No Facebook, manifestantes – como Leonardo Cisneiros e Cezar Martins – denunciam que o proprietário “não está cumprindo ordem judicial, que incluía a restauração” (dos imóveis). E acrescentam: “E o mais grave , é o não cumprimento pelo menos em relação ao telhado”, que, segundo eles, “traz sérios riscos à integridade do imóvel”. E exigem que o poder público faça a sua parte. Não só a Prefeitura, como também a Justiça. E que a lei seja cumprida. Lei cumprida? Se é o que parece, pelo menos ali, a lei transformou os imóveis que deveriam ser preservados, em uma verdadeira casa da mãe joana.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife