Drama urbano e animal. Um dos poucos casarões ainda não descaracterizados na Rua do Aragão, no bairro da Boa Vista, transformou-se em motivo de dupla preocupação para os moradores da região e, porque não dizer, do Recife. É que está cercada por tapumes e, como não há placa indicando os responsáveis pela obra – nem a sua natureza – o temor é que o sobrado seja demolido ou “reformado” para pior, como sempre acontece com os seculares imóveis da cidade, principalmente aqueles que são adaptados para o comércio.
Nelo morava Manoel da Rocha Mourão. Ex-zagueiro do Santos, o idoso com cerca de 90 anos era morador da única casa residencial daquela histórica via, reduto de judeus que fugiram do nazismo europeu e que teve entre os seus moradores a hoje idolatrada escritora Clarice Lispector (1920-1977). Mas de acordo com lojas vizinhas, o idoso foi retirado por familiares para a reforma do imóvel. Eles não sabem informar se o sobrado foi vendido, será alugado ou se sua fachada será preservada. A informação que circula é que será transformado em loja. O outro problema era que o morador criava 50 gatos, que ficaram abandonados no quintal, sem acesso a água nem comida. Voluntários estiveram nesta semana no local, fizeram registro de boletim de ocorrência e estão levando o caso para o Ministério Público. “Os animais encontram-se em “situação desesperadora”, afirma Lucila Maria Noce, ativista da causa animal. É ela que tem evitado que os animais morram de fome.
Todos os dias, Bia – como é mais conhecida entre os defensores dos animais – vai à Rua do Aragão, levar alimentos para os felinos que estão abandonados no casarão, desde que o idoso foi levado pela família. Ela diz que dá comida para os animais duas vezes por dia, de manhã e à noite, quando a rua está mais vazia. “Se não for assim, a ração é roubada e os animais ficam com fome”. Bia mora em Afogados e cuida de 300 animais resgatados em situação de abandono. Afirma que a conta “está altíssima”, com custos com ração que tira, em sua parte, do próprio bolso já que é aposentada. Mas também recebe alguma ajuda em ração de lojas para pets. “Cuido de animais abandonados, mas a situação está ficando inviável, porque como sabem que cuido deles, todos os dias jogam mais na minha casa”, queixa-se. E também reclama da crueldade das pessoas, que não se limitam a abandonar animais domésticos.
Caso alguém queira ajudar com as despesas para os animais, pode encaminhar depósitos para a conta de Bia (Luciola Maria Noce, Agência 0202, conta 1626-8, operação 013. Bia é uma incansável amiga dos animais. Nesta semana, ela levou a um hospital veterinário um cão que teve dois olhos perfurados. A que ponto chega a ruindade das pessoas… O cão estava uivando de dor no meio da rua. e houve populares que a aconselharam a deixá-lo ao abandono, enquanto ela fazia o resgate do animal no asfalto escaldante, à luz do sol. Segundo Bia, o cachorro foi sedado e passava bem ontem à tarde. “Pelo menos a dor passou”, comemora. Porém é provável que não mais enxergue. Morador do Barro, Cláudio Braga foi um dos voluntários que estiveram no local onde os gatos estão abandonados, no bairro da Boa Vista. “Não há placa na obra e precisamos saber a sua situação do imóvel no contexto da Rua do Aragão, se é preservado ou não. Os gatos ficaram abandonados e presos no quintal. Eles já sabem os horários de receber a ração, quando aparecem em grupo na calçada à frente do imóvel. O #OxeRecife apela a pessoas de bom coração que adotem um dos gatinhos abandonados. Ele ficará muito contente com um novo lar. Tem gente que diz que gato não se apega ao dono, mas sim ao imóvel onde reside. É mentira, uma vez fiel ao “amigo” que ele escolhe, a relação “fraterna” é fiel. E para sempre. Quem tem ou teve gato em casa, sabe disso. Experimente!
Ativistas da causa animal estão divulgando esse vídeo nas redes sociais, na esperança de que apareçam pessoas para adotar os gatinhos abandonados.
Na tarde dessa quinta-feira, chegou notícia ao #OxeRecife de que a obra sofreu embargo por parte da Prefeitura, que esteve no local. Os gatos, no entanto, não foram encontrados. Devem ter se assustado com a sujeira e o barulho provocado pela obra.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto e vídeo: Cláudio Braga / Protetor de Animais