Carta pede fim do transporte insalubre de bois vivos do Brasil para exportação

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O mundo ficou chocado com a notícia divulgada no mês passado, quando a cidade do Cabo, na África do Sul, foi infestada por um grande mau cheiro, proveniente do acúmulo de excrementos de 19 mil bois que haviam sido embarcados no Brasil para o Iraque. Os animais – cada boi defeca cerca de 25 quilos de excrementos por dia – estavam mergulhados em fezes e urina, situação considerada “abominável” pelos especialistas. Muitos morreram no caminho diante das precárias condições de transporte e da sujeira. E devem, também, ter contraído muitas doenças na viagem.

Agora, organizações internacionais, ativistas da causa animal, especialistas e acadêmicos encaminharam ao Senado Federal uma carta que pede urgência na tramitação e aprovação do Projeto de Lei (PL) n° 3093, de 2021, que proíbe a exportação de animais vivos por via marítima para abate no exterior.  Ao todo, 19 organizações e ativistas assinaram o documento, incluindo Luisa Mell, co-autora de petição com mais de meio milhão de assinaturas pelo banimento da polêmica prática.   As condições de transporte dos animais chocaram o mundo e provocaram polêmica na África do Sul, devido à fedentina que se espalhou quando o navio ancorou na cidade do Cabo, no último dia 18. Os bois só seriam abatidos no Iraque. Mas o navio fez uma escala na Cidade do Cabo, onde o odor das fezes misturadas com urina provocou protesto dos moradores que, em princípio, não sabiam de onde o mau cheiro vinha.

Transportado para abate, boi descansa nos próprios excrementos, em viagem do Brasil ao Iraque

Segundo as organizações, o fim desse tipo de exportação é um pleito antigo das entidades e da sociedade brasileira. A urgência dessa solicitação foi reforçada devido ao incidente. Segundo informações do Conselho Nacional de Sociedades para a Prevenção da Crueldade contra Animais (NSPCA, na sigla em inglês), organização sul-africana, foram encontrados bois doentes e mortos na embarcação, o que levou a entidade a classificar o cenário como “abominável”. Ou seja, além do fedor de urina e fezes, a população do Cabo ainda enfrentou o provocado pela carniça de bois mortos (não se sabe quantos).

Em nota pública, a organização afirma que “as cenas no navio eram repugnantes, com um acúmulo extremo de fezes e urina, e os animais não tinham outra opção a não ser descansar em baias com seus próprios excrementos.”  Uma viagem do Brasil ao Iraque dura, em média treze dias. O destino dos animais era o Porto de Umm Qasr. De lá, para o abate. Imaginem, então, o que aconteceu no período do caminho.  A diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil, Cristina Diniz, alerta que este não é um caso isolado:

“Todos os anos, milhões de animais enfrentam longos períodos no mar em condições sanitárias e de bem-estar terríveis. Muitos acabam gravemente feridos, adoecem ou morrem antes de sequer chegar ao destino. Além de causar intenso sofrimento aos animais, o transporte de carga viva por via marítima também impacta o meio ambiente e as cidades portuárias”. Convém lembrar o caso da embarcação com 27.000 bois retida no Porto de Santos, em 2018, que resultou em uma multa de R$2,5 milhões por poluição atmosférica, contaminação da rede de drenagem e maus-tratos”. 

O documento que pede proibição de transporte de bois vivos para o exterior,  assinado pelas organizações, foi encaminhado ao senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG),  Presidente do Senado Federal. Ele solicita que o requerimento, ainda não apreciado em plenária, seja votado com urgência para que o projeto de lei cumpra seu trâmite legislativo. O texto lembra que esse tipo de legislação já foi aprovada em outros países. “Ao redor do mundo, a mudança já começou. Proibições e restrições já foram anunciadas na Ásia, na Oceania e na Europa. O Brasil não pode ficar para trás”, afirmam as ONGs. No mundo, há casos de maus tratos com ursos biliares, gansos, jumentos, aves, primatas.

Abaixo, você pode conferir outros casos de maus tratos a animais ou iniciativas para salvá-los.

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Não ao abate de jumentos

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: NSPCA

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