Na Quarta-Feira de Cinzas caí na folia, no Bacalhau na Vara, que concentrou-se no Mercado da Boa Vista. Como dizia Ascenso Ferreira, “hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro”. Então, terminei gazeando as entrevistas de balanço oficial da festa, os números hiperbólicos e repetitivos, o que funcionou (tudo segundo a Prefeitura do Recife). Não resta dúvida. Foi um grande carnaval, que de acordo com a PCR, injetou R$ 2 bilhões na economia da capital, com a geração de 50 mil empregos.
“O Carnaval do Recife é um grande evento multicultural e com presença marcante de manifestações populares. Para a sua realização, a Prefeitura do Recife mobilizou parcerias junto à iniciativa privada e captou mais de R$ 8 milhões, viabilizados por meio de quatro editais para captação de cotas de patrocínios. Os parceiros são AMBEV, Sports Entretenimento e Produção de Eventos, TIM e CVC”, informa a PCR, no comunicado sobre o resultado da festa. O que faltou dizer: Qual o custo total oficial da festa? Foi inteiramente bancada pela iniciativa privada? Qual o valor de investimento, por parte do poder público? Para ser mais transparente, a PCR deveria ter dito não só quanto a festa gerou para a economia local, mas também quanto custou aos cofres públicos. Aí, claro, a conta fecharia.
Será que o aporte de R$ 8 milhões da iniciativa privada foi só o que se gastou? Quanto a PCR investiu, sem subvenções, em premiações, em decoração, em cachês, em montagem de palco, engenharia de som, etc? Seria muito interessante que, na planilha dos custos da festa, o Prefeito João Campos (PSB) tivesse divulgado uma planilha resumida do carnaval, fazendo da maior festa popular do Recife, também, um exemplo de transparência. Afinal, foram 44 polos de animação, 2.800 atrações, sem falar em um palco suntuoso, o maior que já vi, no Marco Zero. Segundo a PCR, a festa atraiu 2,7 milhões de pessoas aos polos de animação. Falar em números, alguém lembrou-se de analisar ou ouvir um matemático sobre o novo “recorde” do Galo da Madrugada, que afirma ter arrastado uma multidão de 2,5 milhões no seu desfile do sábado? Onde coube esse povo todo?
É incrível que alguns veículos da imprensa local tenham “engolido” esse número sem nada questionar. Não ouviram um matemático, alguém especializado em calcular espaço e multidão. O Galo da Madrugada (que já ganhou as páginas do Livro Guinness dos Recordes ao dizer que arrastava um milhão de foliões), em 2023 apresentou muitas “clareiras” no desfile. Eram visíveisos espaços vazios, não só por quem esteve nos camarotes como também por quem ficou em casa, assistindo pela TV. Até 2020, data do último carnaval, não era assim. A massa humana fechava todos os espaços disponíveis. Os números superdimensionados do Galo foram lembrados nesta semana pelo jornalista Homero Fonseca, um daqueles que checa em dobro todas as informações por todos os lados. Ele sempre diz que “um jornalista deve desconfiar até do Papa”. Ou seja, checar, rechecar, ouvir todas as fontes, uma, duas, três vezes se possível.
Estava ele à frente da Redação do Diário de Pernambuco, em 1996, quando o Galo começou a divulgar o seu milhão de foliões,l lembra. Isso, em uma época em que “o Recife tinha um milhão e meio de habitantes”. O jornalista desconfiou que a conta não batia, motivo pelo qual ao invés de inflacionar os números, ele orientou os seus repórteres a usarem a palavra “multidão” no lugar de “1 milhão”. Naquele ano, para tirar as suas dúvidas, ele pediu ao engenheiro Fritz Guedes, que calculasse o número de foliões do Galo, com base em mapas cartográficos. A resposta: o percurso do Galo comportava 400 mil pessoas e não 1 milhão. “Em 2023, a extrapolação atingiu o auge: 2,5 milhões de pessoas no Galo”, lembra Homero. Será? Cadê um engenheiro ou um matemático para calcular? Homero lembra que o mito do milhão nasceu da rivalidade do carnaval de Pernambuco com o da Bahia. “Na disputa por espaço na cobertura espetaculosa da Rede Globo, as notícias enviadas do Recife e Salvador foram inflando os números, ano a ano, em uma corrida ufanista”, diz ele. Tem razão. Eu sempre desconfiei dos números. E mais ainda em 2023: 2,5 milhões. Onde? Na disputa pelo marketing, claro, diante – também – da possibilidade de um número cada vez maior de patrocinadores.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: PCR / Divulgação