Elas são lindas, flutuando no ar. Já renderam até um best-seller, inesquecível livro O Apanhador de Pipas, que depois virou filme. Mas quando não são corretamente “empinadas” constituem um grande risco para os humanos. Há casos até de mortes – principalmente motociclistas – que foram degolados por conta de materiais abrasivos ou cortantes colocados nas suas linhas. Na Semana da Fauna, convém lembrar a advertência que vem da Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh): o cerol e a linha chilena estão provocando ferimentos graves e até mortes, também em aves silvestres. Até mesmo as mais valentes, como é o do carcará, estão sendo prejudicadas.
O cerol é uma mistura de cola com vidro enquanto a linha chilena decorre de uma mistura de óxido de alumínio e outros materiais abrasivos. Nos dois casos, a intenção dos “empinadores” é cortar a linha de outras pipas, que em Pernambuco também são chamadas de papagaios. O problema é que a iniciativa termina fazendo vítimas. No caso dos pássaros, somam 40 – em média- aqueles que chegam ao Centro de Triagem Animais Silvestres de Pernambuco (Cetas Tangara), no período compreendido entre agosto e outubro, quando os ventos são mais intensos e as pipas sobem com mais facilidade. Todos os anos, o drama se repete.
Uma das vítimas em 2020 foi o carcará da foto, ave de rapina e, portanto, tão importante no controle biológico de outros animais. Ele chegou ao Cetas muito machucado, com ferimentos nas duas asas, impossibilitado de voar. Foi socorrido por uma alma boa e o tratamento está dando certo. “Está se recuperando bem do susto”, informa a veterinária Luana Raposo, que atende à ave. A Cprh informa que mesmo fora do período das pipas, os animais sofrem acidentes, com linhas que ficam penduradas em fios ou telhados.
As pipas criminosas preocupam os parlamentares. No momento, há duas propostas de lei para eliminar a prática do uso de cerol e de outras linhas cortantes nas pipas. Ambas estão em tramitação na Câmara dos Deputados. São: o Projeto de Lei 3228/20, que proíbe o uso de pipa com cerol e similares em todo território nacional. E o Projeto de Lei 3358/20, que tipifica o uso, a venda e o porte de cerol ou linha chilena como crime de perigo para a vida ou saúde de outros, com pena de três meses a um ano de detenção. Pode ser que, assim, a maldosa farra do cero acabe. Ou, pelo menos, se reduza. Penso que uma campanha educativa faria um bom efeito.
Veja o vídeo da Cprh sobre o assunto. É chocante, mas talvez sirva para que a molecada deixe de usar o Cerol.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cprh / Divulgação